sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Derrubada ou retirada de árvores acelera devastação ambiental em Fortaleza. Praça Portugal é a próxima vítima


"Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer, quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz."
Tom Jobim


    
Fortaleza ainda impressiona os visitantes de outros estados e do Exterior pela arborização das ruas e avenidas. A imagem preconcebida lá fora de uma cidade semiárida é substituída pelo verde acolhedor. A brisa marinha – quase sempre constante – ajuda também a atenuar o forte calor da capital cearense.
     Graças a esses fatores, Fortaleza tem um dos climas mais agradáveis entre as capitais nordestinas, sem desmerecer as demais, possuidoras de outros encantos. Sol quase o ano todo, praias e calor suportável, principalmente nos meses de junho, julho, agosto e setembro, até outubro, quando a ventania, algumas vezes muito forte, alivia o mormaço.
    
A triste constatação: o clima ameno e o cenário verde estão no fim – ou muito ameaçados. A ofensiva impiedosa contra a arborização acelerou-se nos últimos dois anos. O prefeito Roberto Cláudio (foto) mandou retirar mais de uma centena de antigas árvores nas avenidas Santos Dumont, Dom Luiz e Bezerra de Menezes e outras ruas. Algumas foram replantadas no Horto Florestal (sobreviveram?) e outras separadas para possível replantio. Muitas foram cortadas. 
     A agressão ambiental teve uma justificativa até certo ponto compreensível: a chamada mobilidade urbana, inviabilizada pelos engarrafamentos intermináveis e o trânsito caótico da cidade. Noticiou O Povo on line no dia 14 de agosto de 2014: “Em abril (nota do blog: 2014), a Prefeitura retirou 202 árvores dos canteiros centrais da Santos Dumont e Dom Luís, na Aldeota, para implantação de sistema binário entre as vias. Dessas, 190 foram transplantadas no Horto Municipal. 110 árvores ainda corriam risco de morte”.
     Na Bezerra de Menezes, a retirada para transplantio ou derrubada de árvores deveu-se à implantação do BRT (Bus Rapid Transport) naquela avenida, até então, uma das mais arborizadas e mais belas de Fortaleza. Construída em 1966, pelo então prefeito Murilo Borges, a Bezerra de Menezes já foi comparada à Champs-Elisées, de Paris, sem nenhum exagero. Chego até a dizer que, em alguns trechos, ela superava em beleza, também em determinados pontos, a famosa via parisiense.
     Pergunta-se: não havia alternativas?  O resultado é a avenida Bezerra de Menezes praticamente sem árvores. Lamentável.
     Roberto Cláudio iguala-se assim a um prefeito de triste memória para o fortalezense: José Walter Cavalcante (final dos anos 60 e início da década de 70), responsável pela destruição de árvores centenárias da Praça Clovis Bevilaqua para construção de caixa d´água subterrânea da Cagece que nunca funcinou. A Praça Clóvis Bevilaqua é hoje um melancólico descampado. José Walter também tem seu nome registrado na infeliz “reforma” de um dos ícones da cidade: a Praça do Ferreira, que ficou totalmente descaracterizada. Décadas depois Juraci Magalhães devolveu à população a Praça do Ferreira, lembrando o antigo formato vilipendiado na gestão José Walter.
PRAÇA PORTUGAL
     Roberto Cláudio vai destruir – a Câmara Municipal já autorizou – um dos mais belos logradouros de Fortaleza: a Praça Portugal, com o objetivo de completar o sistema binário das avenidas Dom Luiz e Santos Dumont. Como sempre, se diz que não há alternativa, mas existe. O problema é que a opção sempre é pela destruição. É preciso mobilização da sociedade para evitar mais esse atentado à memória da cidade.
TEMPOS DE MOBILIZAÇÃO
     Pior é que a maioria dos fortalezenses assistiu impassível à derrubada das árvores, salvo uma ou outra manifestação isolada na imprensa.
      Chegam-me lembranças dos tempos em que a sociedade fortalezense se mobilizava em favor da causa ecológica. Metade e quase final dos anos 70. Época memorável das campanhas vitoriosas da Sociedade Cearense de Defesa do Meio Ambiente.                        Vou citar apenas algumas que me ficaram na memória: 1) campanha contra a derrubada dos coqueiros da avenida Beira-Mar (por incrível que pareça, tentaram praticar essa perversidade, sem êxito, graças à Socema); 2) luta contra a chamada “capinação química”: uma multinacional (Monsanto) havia sido contratada pela Prefeitura de Fortaleza para eliminar a plantinha rasteira tiririca que se alastrava pelas coxias das ruas da cidade e causava transtornos. O problema era que o produto químico a ser utilizado pela Monsanto, afetava não apenas a tiririca, mas a vegetação de Fortaleza, as árvores, inclusive. Desistiram. O nome Tiririca veio a se tornar famoso, graças ao palhaço e hoje – por que não dizer? – atuante deputado federal, iniciando o segundo mandato;
     Mas, voltemos à Socema, para falar da sua maior glória, o gol de placa: a batalha – com pontos tensos e desanimadores - em favor da preservação do embrião do Parque Cocó, o hoje Parque Adahil Barreto. O Banco do Nordeste queria construir ali a sua sede administrativa, que terminou indo para o Passaré. Grande mobilização impediu esse atentado ao meio ambiente da cidade. Anotem esses nomes. O Parque Adahil Barreto e o Parque do Cocó devem a sua preservação a pessoas como Joaquim Feitosa, Flávio Torres Araújo, Marília Brandão, Joaquim Cartaxo, Samuel Braga (na Socema e, depois, vereador na Câmara Municipal), José Borzachiello da Silva e tantos outros.
        Na imprensa, destaco a atuação do grande jornalista Moraes Né, através de editoriais e artigos. Eu, repórter do jornal “O Povo”, na época, fui testemunha, na qualidade de repórter e fiz parte, na condição de cidadão, dessa luta memorável, tendo como referência Moraes Né. Chegamos a fazer reportagem conjunta em determinada ocasião.
AMEAÇAS AO COCÓ
     Infelizmente, essa mobilização positiva dos anos 70 e 80 virou acomodação nos dias atuais. O próprio Parque do Cocó, fruto da lua da sociedade pela preservação ambiental, vê-se hoje ameaçado pela construção de obras públicas e pela especulação imobiliária.
     Destaque-se, a bem da verdade, a mobilização levada a efeito contra a construção dos dois viadutos na área de preservação ambiental do Cocó, lideradas pelos vereadores João Alfredo e Toinha Rocha, além da ex-prefeita Maria Luiza Fontenele e a ex-vereadora e professora Rosa da Fonseca e os integrantes do movimento Crítica Radical. Luta foi em vão, mas pelo menos houve mobilização. Os viadutos foram construídos. Explicação oficial: os viadutos eram necessários, porque uma média de 70 mil carros e 274 ônibus trafegavam todo o dia pelo trecho, e ocasionavam demora em média de 30 minutos na área. Com os viadutos, esse tempo teria caído para três minutos. Alguém já foi checar isso? 
    
O Parque do Cocó(foto) existe de fato e não de direito. Para o advogado e membro do movimento ambientalista SOS Cocó, Arnaldo Fernandes, em declaração prestada ao jornal O Estado, de Fortaleza, em 5 de fevereiro deste ano, “um dos grandes fatores que incentivam a degradação e a ocupação indevida de espaços verdes que deveriam ser protegidos é a ineficiência do decreto estadual (nº 20.253) de 05 de setembro de 1989, que foi expandido em 08 de junho de 1993, e que cria o Parque Ecológico do Cocó. O texto declara o espaço de 1.155,2 hectares, na época, como área de utilidade pública para desapropriação. Os trabalhos de retirada de propriedades privadas irregulares nunca foram realizados”.
     “Esse decreto nunca foi concretizado porque não foram feitas as desapropriações dos terrenos no seu entorno. Pelas características singulares, o Parque do Cocó não pode conviver com propriedades privadas e requer uma proteção especial. Se os terrenos forem privatizados, ficam na iminência de construções, causando vários problemas que já conhecemos. Não podemos esquecer que estamos tratando de uma área extremamente sensível”, observa o advogado.

 MEIO AMBIENTE NO BRASIL
     Vale relembrar o histórico da questão ambiental no Brasil. O País começou a preocupar-se com o meio ambiente apenas antes da metade do século XX, quando houve a tentativa de regulamentar a exploração dos recursos naturais: borracha, madeira, água. Conforme o Almanaque Abril, datam de 1937, governo Getúlio Vargas, o Código Florestal e o Código de Águas.      Mas a chamada “consciência ecológica” é muito mais recente, vem dos anos 70 para cá. Em 1967, cria-se o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), substituído em 1989 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). Em 1990 cria-se a Secretaria de Meio Ambiente da Presidência da República, transformada depois em Ministério.
SUSTENTABILIDADE
     Outro conceito ganha importância: o do desenvolvimento sustentável, que ressalta a preservação de recursos naturais e dos ecossistemas para as gerações futuras, a melhoria da qualidade de vida e a sobrevivência das empresas. Ainda segundo o Almanaque Abril 2015, o conceito de sustentabilidade foi definido em 1987, no documento Nosso Futuro Comum, também chamado de Relatório Brundland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas (ONU).
MEIO AMBIENTE E QUESTÃO SOCIAL
A conscientização da sociedade tem a ver com a questão social e o meio ambiente, tema que deve merecer muita atenção dos gestores públicos e da população, de uma maneira geral, tanto a que vive nas grandes cidades quanto a que habita em cidades médias, pequenas e nas áreas rurais. Digno de registro é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) elaborado pela assistente social Regina Parente (foto) intitulado O Serviço Social no Meio Ambiente no qual ela aborda, com muita propriedade, essa questão:
“Ressalta-se que o serviço social tem uma larga história de intervenção visando a atender as camadas excluídas e marginalizadas, tendo o compromisso com a justiça social, expressados no eco e agregados naqueles que procuram estabelecer cumplicidades entre a construção de conhecimentos para uma sociedade, justa, igualitária e sustentável. As políticas sociais são classificadas e definidas mediante as suas especificidades e objetivos, sendo preventivas, curativas, primárias, secundárias terciárias, apresentada conforme o público alvo, onde a mesma teve a sua origem no capitalismo advento da Revolução Industrial, através das mobilizações executadas pelas as classes operárias que passou pelas as contradições sociais proferidas pela a classe dominante, e neste contexto a política social ganha destaque por possuir a mediação entre as demandas sociais e também a intervenção governamental, sendo estratégia dos conflitos existente entre as classes, a qual a assistência social é uma política que garante os direitos sociais, dentre outros”.

Conclui Regina Parente: “O serviço social é uma profissão muito primordial no contexto do meio ambiente, pois é uma temática nova no trabalho profissional do assistente social, mas que posteriormente será grande destaque na sociedade, por conta de realizar ações sociais na melhoria de vida das pessoas e também na conscientização do valor das pessoas conforme seus direitos e deveres, terem responsabilidade e compromisso com o meio ambiente, assim preservando a natureza".

O texto completo do trabalho pode ser lido neste link: http://pt.slideshare.net/alavieira/regina-tcc




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