segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Insegurança


Espera-se que a reforma do Cine São Luiz, anunciada recentemente, venha acompanhada de medidas para valorizar a Praça do Ferreira, um dos maiores ícones de Fortaleza, ora ameaçada pela ação de vândalos e transformada em dormitório de moradores de rua logo depois das 19 horas.

A L´Escale, lanchonete que ali funciona há vários anos colocava, depois das 17h30min, cadeiras na calçada para os clientes desfrutarem a happy hour, o que dava mais vida e movimento àquele local.

Agora, desistiu de servir a tradicional cerveja dos fins de tarde e início de noite, fato que acontecia desde 1994.

Motivo: a insegurança na praça. Houve dois incidentes e o proprietário, por medida de precaução, resolveu encerrar o atendimento às 19 horas, sem bebida alcoólica.

Perde o Centro um dos poucos locais em que se podia conversar; beber cerveja com tranquilidade e comer algo, sem a praga dos aparelhos de som e sua barulheira ensurdecedora.

Ressalte-se: os clientes de fim de tarde/início de noite do estabelecimento sempre foram pacíficos e nenhum deles protagonizou os incidentes desagradáveis ali registrados.

Eram comerciários das lojas localizadas nas proximidades, alguns juristas, jornalistas, boêmios e pessoas que gostam do Centro de Fortaleza.

Com o fim do happy hour no L´Escale, a Praça do Ferreira ficará mais soturna depois das 18 horas.

A partir desse horário não se vêem guardas municipais nem policiais militares no local.

O Natal da Luz, aberto sexta-feira última, terá menos brilho este ano. Lamentável.

Transcrito do Diário do Nordeste, de 16/12/2013


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pedro Ney: engenheiro e humanista


No dia 5 de outubro último faleceu no Recife o engenheiro eletricista Pedro Ney da Silva Pereira. Cearense radicado na capital pernambucana, ele participou do empreendimento que mudou, há quase 49 anos, o perfil econômico de Fortaleza: a implantação da energia de Paulo Afonso, em 1965. Pedro Ney era, na época, diretor-técnico da Companhia de Energia Elétrica de Fortaleza, presidida pelo engenheiro Jesamar Leão. Pode-se dividir a história econômica do Ceará em antes e depois de Paulo Afonso. Fortaleza sofria com faltas de energia elétrica, o que inviabilizava o desenvolvimento industrial. Paulo Afonso significou marco no processo de desenvolvimento do Ceará. É necessário lembrar os nomes das autoridades que mais se empenharam em trazer a energia de Paulo Afonso ao CE: o presidente João Goulart, deposto pelo movimento militar de 1964; e o governador Virgílio Távora. A inauguração ocorreu em 1º de fevereiro de 1965, na Praça do Otávio Bonfim. O governador Virgílio Távora, no discurso proferido na solenidade, teve a coragem de citar o nome de João Goulart diante do general-presidente Castello Branco e autoridades presentes. Pedro Ney preocupou-se em orientar a população sobre os procedimentos a serem adotados durante a troca dos sistemas elétricos, através da ainda iniciante televisão (canal 2). Formado em Engenharia no Rio de Janeiro, com curso na Alemanha, era homem culto e preocupado com os problemas sociais do País. Era casado com a artista plástica Maria Ísis (Bidy) Brizeno Pereira. O casal teve as filhas Michele, residente na França; e Daniele, falecida.
Artigo publicado no Diário do Nordeste, edição de 16/11/13, seção Ideias (Opinião).

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Ciro, o grande


Conheci o jornalista J. Ciro Saraiva em 1972, na "Gazeta de Notícias", quando esta publicação passou a ser semanal, depois de adquirida por outra empresa jornalística de Fortaleza. Mas ouvia falar no nome dele desde tempos de adolescente. Na Gazeta de Notícias, Ciro integrava juntamente com Moraes Né (editor) e Durval Ayres, o trio dirigente do jornal que, embora tenha tido pouco tempo de vida, trouxe inovação à imprensa cearense: tornou o edição dominical, antes muito fria, em algo vibrante, com, pelo menos uma matéria de impacto, que proporcionava suíte (repercussão e novas abordagens) até pelos concorrentes na semana. O modelo ainda é seguido até hoje.

Sagaz, às vezes sarcástico, mas, como todo boêmio (não o é mais), sempre bonachão (continua a sê-lo), Ciro fazia questão de incutir nos repórteres a busca pelo que está atrás da notícia, para evitar o "jornalismo de declarações", ainda comum na mídia de hoje.

Mas o que me despertava mais atenção em Ciro Saraiva era a preocupação em desvendar fatos obscuros da política cearense do passado.

São marcantes suas entrevistas com políticos, publicadas em diferentes jornais.

O jornalista revelou-se grande pesquisador. Um historiador nato. É o que demonstra os seus dois livros: "No Tempo dos Coronéis" e "Depois dos Coronéis". Com estilo agradável, o autor leva uma vantagem: acompanhou a história de alguns desses fatos não apenas como mero observador, mas como ator no cenário dos acontecimentos.

Foi secretário de Estado em dois governos. Mais livros virão.


Ciro Saraiva



Conheci o jornalista J. Ciro Saraiva em 1972, na "Gazeta de Notícias", quando esta publicação passou a ser semanal, depois de adquirida por outra empresa jornalística de Fortaleza. Mas ouvia falar no nome dele desde tempos de adolescente. Na Gazeta de Notícias, Ciro integrava juntamente com Moraes Né (editor) e Durval Ayres, o trio dirigente do jornal que, embora tenha tido pouco tempo de vida, trouxe inovação à imprensa cearense: tornou o edição dominical, antes muito fria, em algo vibrante, com, pelo menos uma matéria de impacto, que proporcionava suíte (repercussão e novas abordagens) até pelos concorrentes na semana. O modelo ainda é seguido até hoje.

Sagaz, às vezes sarcástico, mas, como todo boêmio (não o é mais), sempre bonachão (continua a sê-lo), Ciro fazia questão de incutir nos repórteres a busca pelo que está atrás da notícia, para evitar o "jornalismo de declarações", ainda comum na mídia de hoje.

Mas o que me despertava mais atenção em Ciro Saraiva era a preocupação em desvendar fatos obscuros da política cearense do passado.

São marcantes suas entrevistas com políticos, publicadas em diferentes jornais.

O jornalista revelou-se grande pesquisador. Um historiador nato. É o que demonstra os seus dois livros: "No Tempo dos Coronéis" e "Depois dos Coronéis". Com estilo agradável, o autor leva uma vantagem: acompanhou a história de alguns desses fatos não apenas como mero observador, mas como ator no cenário dos acontecimentos.

Foi secretário de Estado em dois governos. Mais livros virão.

(Transcrito do Diário do Nordeste - Opinião - Ideias - edição de 15/5/13)


 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Homem de moral

Homem de moral
Conhecia os maiores sucessos de Paulo Vanzolini, falecido no último dia 29, antes de tomar conhecimento da existência do autor: "Volta por Cima" (1959), cantada por Noite Ilustrada; e "Ronda" (1953), interpretada por gerações de cantores e cantoras, até hoje. Os intérpretes obscureciam o nome do compositor.

Vim saber quem era Paulo Vanzolini através de disco gravado por Chico Buarque, em 1967, com "Samba Erudito" e "Praça Clóvis", no estilo do samba paulista (ironia amarga, o que o diferencia do samba carioca). Em "Praça Clóvis", um rapaz tem a carteira roubada (com o retrato da ex-namorada): "Eu já devia ter rasgado /E não podia/ Esse retrato cujo olhar/ Me maltratava e perseguia/ Um dia veio o lanceiro/ Naquele aperto da praça/ vinte e cinco/ Francamente foi de graça". Fica a dúvida machadiana: por que ele não rasgou antes o retrato da moça? Ao insinuar que agradece ao ladrão por ter levado a lembrança, ele é sincero? Conclui-se que o infeliz lamenta mais a perda do retrato do que o dinheiro. Puro Vanzolini. Tive duas surpresas: saber que o mesmo Vanzolini era autor de "Ronda" e "Volta por Cima" e que fazia música pelo mais puro diletantismo. Era cientista (zoólogo) de renome internacional. Na sombria década de 70, passei a conhecer outras músicas dele, através das amigas: Ana Fonseca, hoje secretária nacional extraordinária para a Superação da Extrema Pobreza; e Irlene Araújo, professora.

Termino com trecho de música de Vanzolini reveladora do seu pessimismo: "Vida comprida e vazia/ Dias e noites iguais/ Morte é paz".

Paulo VerlaineJornalista
(Publicado no Diário do Nordeste em 6/5/13)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Maioridade


A questão da redução da maioridade penal volta a acirrar os ânimos. Redes sociais estão repletas de postagens esdrúxulas: desde os que defendem cadeia para garotos (as) aos que pratiquem qualquer delito: até furtar pão para comer; do outro lado, “fundamentalistas” do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não admitem discutir a mínima alteração no documento (virou dogma de fé!).

Eu proponho debate em torno desse ponto: a maioridade penal seria mantida aos 18 anos, desde que houvesse punição mais rigorosa para adolescentes (não crianças), de 16 anos em diante, que praticassem crimes violentos: homicídio cruel e premeditado, estupro com morte e roubo (assalto à mão armada) com morte. Atualmente, o período de custódia para esses casos é de três anos. Por que não aumentá-lo para cinco anos? 

Poderia haver aplicação de pena máxima (30 anos), em regime fechado, sem qualquer benefício de redução, ao adulto que incentivasse criança e adolescente à prática de crime.

O que acontece atualmente? Rapaz de 17 anos, 11 meses, três semanas e seis dias tortura, estupra, mata, e ganha “medida socioeducativa” de três anos, geralmente em regime de semiliberdade, com raros casos de internação (regime fechado). É correto? Perguntem às famílias das vítimas. Maior rigor nesses casos – muito específicos e emergenciais – não significa deixar de adotar medidas preventivas para evitar a marginalização da juventude. A sociedade tem parte da culpa em alguns casos, reconheço, mas vamos reparar esse mal sem incentivar a impunidade.

Paulo Verlaine
Jornalista 
(TRANSCRITO DO DIÁRIO DO NORDESTE EM 26/4/13

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Bar do Avião

Transcrito do Diário do Nordeste de 16/4/13 - Página de Opinião (Ideias)


  
Paulo Verlaine



     O Diário do Nordeste trouxe-nos a boa nova: “Bar do Avião passará por reforma”. Diz matéria do repórter Thiago Rocha, de 3/4/13: “O Bar Avião, na Parangaba, que está em processo de tombamento provisório, vai sofrer uma reforma completa, conforme sua estrutura original de 1949. A área no entorno do estabelecimento será revitalizada pelo Metrô de Fortaleza (Metrofor) e, por isso, o prédio também vai passar por uma intervenção. A expectativa é que as obras sejam concluídas em julho”.
      Inaugurado a 23 de outubro de 1949, o antigo bar – depois borracharia – localiza-se na avenida João Pessoa, na entrada da rua 15 de novembro. Foi construído por Antonio de Paula Lemos, o primeiro proprietário, falecido em 1958, substituído pelo filho Odacir Natalense Lemos.  As informações são do blog Fortaleza Nobre, da pesquisadora Leila Nobre.
     O nome Bar do Avião remete à passagem frequente de aviões pela área. Devido ao seu formato original, o ponto passou a ser atração da Fortaleza dos anos 50, 60 e até 70, quando se iniciou a decadência. Havia (e ainda há) um terraço de onde as pessoas assistiam à subida e descida dos aviões, entre goles de cerveja e bate-papos.
      O estilo é kitsch e não se pode chamá-lo ainda de prédio histórico, mas tem valor sentimental inestimável, a exemplo da Casa do Português e do edifício da antiga Rádio Uirapuru (na forma de aparelho radiofônico).  
     O responsável pelo projeto de restauração é o arquiteto Nelson Serra e Neves. De parabéns o Metrofor e a Secretaria de Cultura de Fortaleza pelo resgate do Bar do Avião.