quarta-feira, 15 de maio de 2013

Ciro, o grande


Conheci o jornalista J. Ciro Saraiva em 1972, na "Gazeta de Notícias", quando esta publicação passou a ser semanal, depois de adquirida por outra empresa jornalística de Fortaleza. Mas ouvia falar no nome dele desde tempos de adolescente. Na Gazeta de Notícias, Ciro integrava juntamente com Moraes Né (editor) e Durval Ayres, o trio dirigente do jornal que, embora tenha tido pouco tempo de vida, trouxe inovação à imprensa cearense: tornou o edição dominical, antes muito fria, em algo vibrante, com, pelo menos uma matéria de impacto, que proporcionava suíte (repercussão e novas abordagens) até pelos concorrentes na semana. O modelo ainda é seguido até hoje.

Sagaz, às vezes sarcástico, mas, como todo boêmio (não o é mais), sempre bonachão (continua a sê-lo), Ciro fazia questão de incutir nos repórteres a busca pelo que está atrás da notícia, para evitar o "jornalismo de declarações", ainda comum na mídia de hoje.

Mas o que me despertava mais atenção em Ciro Saraiva era a preocupação em desvendar fatos obscuros da política cearense do passado.

São marcantes suas entrevistas com políticos, publicadas em diferentes jornais.

O jornalista revelou-se grande pesquisador. Um historiador nato. É o que demonstra os seus dois livros: "No Tempo dos Coronéis" e "Depois dos Coronéis". Com estilo agradável, o autor leva uma vantagem: acompanhou a história de alguns desses fatos não apenas como mero observador, mas como ator no cenário dos acontecimentos.

Foi secretário de Estado em dois governos. Mais livros virão.


Ciro Saraiva



Conheci o jornalista J. Ciro Saraiva em 1972, na "Gazeta de Notícias", quando esta publicação passou a ser semanal, depois de adquirida por outra empresa jornalística de Fortaleza. Mas ouvia falar no nome dele desde tempos de adolescente. Na Gazeta de Notícias, Ciro integrava juntamente com Moraes Né (editor) e Durval Ayres, o trio dirigente do jornal que, embora tenha tido pouco tempo de vida, trouxe inovação à imprensa cearense: tornou o edição dominical, antes muito fria, em algo vibrante, com, pelo menos uma matéria de impacto, que proporcionava suíte (repercussão e novas abordagens) até pelos concorrentes na semana. O modelo ainda é seguido até hoje.

Sagaz, às vezes sarcástico, mas, como todo boêmio (não o é mais), sempre bonachão (continua a sê-lo), Ciro fazia questão de incutir nos repórteres a busca pelo que está atrás da notícia, para evitar o "jornalismo de declarações", ainda comum na mídia de hoje.

Mas o que me despertava mais atenção em Ciro Saraiva era a preocupação em desvendar fatos obscuros da política cearense do passado.

São marcantes suas entrevistas com políticos, publicadas em diferentes jornais.

O jornalista revelou-se grande pesquisador. Um historiador nato. É o que demonstra os seus dois livros: "No Tempo dos Coronéis" e "Depois dos Coronéis". Com estilo agradável, o autor leva uma vantagem: acompanhou a história de alguns desses fatos não apenas como mero observador, mas como ator no cenário dos acontecimentos.

Foi secretário de Estado em dois governos. Mais livros virão.

(Transcrito do Diário do Nordeste - Opinião - Ideias - edição de 15/5/13)


 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Homem de moral

Homem de moral
Conhecia os maiores sucessos de Paulo Vanzolini, falecido no último dia 29, antes de tomar conhecimento da existência do autor: "Volta por Cima" (1959), cantada por Noite Ilustrada; e "Ronda" (1953), interpretada por gerações de cantores e cantoras, até hoje. Os intérpretes obscureciam o nome do compositor.

Vim saber quem era Paulo Vanzolini através de disco gravado por Chico Buarque, em 1967, com "Samba Erudito" e "Praça Clóvis", no estilo do samba paulista (ironia amarga, o que o diferencia do samba carioca). Em "Praça Clóvis", um rapaz tem a carteira roubada (com o retrato da ex-namorada): "Eu já devia ter rasgado /E não podia/ Esse retrato cujo olhar/ Me maltratava e perseguia/ Um dia veio o lanceiro/ Naquele aperto da praça/ vinte e cinco/ Francamente foi de graça". Fica a dúvida machadiana: por que ele não rasgou antes o retrato da moça? Ao insinuar que agradece ao ladrão por ter levado a lembrança, ele é sincero? Conclui-se que o infeliz lamenta mais a perda do retrato do que o dinheiro. Puro Vanzolini. Tive duas surpresas: saber que o mesmo Vanzolini era autor de "Ronda" e "Volta por Cima" e que fazia música pelo mais puro diletantismo. Era cientista (zoólogo) de renome internacional. Na sombria década de 70, passei a conhecer outras músicas dele, através das amigas: Ana Fonseca, hoje secretária nacional extraordinária para a Superação da Extrema Pobreza; e Irlene Araújo, professora.

Termino com trecho de música de Vanzolini reveladora do seu pessimismo: "Vida comprida e vazia/ Dias e noites iguais/ Morte é paz".

Paulo VerlaineJornalista
(Publicado no Diário do Nordeste em 6/5/13)