quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Escritor Urariano Mota lança o Dicionário Amoroso do Recife

                               Centro do Recife

Dicionário Amoroso do Recife, do escritor pernambucano Urariano Mota, transporta-nos a figuras, fatos, locais e paisagens da capital pernambucana em épocas diversas. É o Recife cantado em prosa, no estilo leve, elegante – mas sem afetação – do autor, e em versos dos grandes poetas por ele citados. 
     Urariano Mota, recifense do bairro de Água Fria, é autor dos romances Soledad no Recife, (baseado na vida de Soledade Barret Viedma, amante do cabo Anselmo e por ele traída e entregue à tortura e morte aos agentes da ditadura brasileira); e O Filho Renegado de Deus.
Pelas  ruas do Recife
O Recife – o Dicionário explica o porquê do masculino – tem encanto especial para mim. Depois de Fortaleza, é a talvez a única capital de estado brasileiro onde eu poderia morar e me sentir em casa. A outra opção seria mais distante: o Rio de Janeiro. Já estive no Recife mais de uma dezena de vezes. Espero voltar lá outras dezenas. Que Fortaleza – no feminino – não tenha ciúmes...
     O túnel do tempo da memória me leva ao Recife de 1958, ano em que, pela primeira vez, aos oito anos de idade, conheci a Veneza Brasileira. De navio. Viagem mágica de dois dias, saindo do Porto do Mucuripe (Fortaleza), passando por Natal (RN), a bordo do navio Itaité, do Lóide Brasileiro, um dos famosos “itas”, em companhia da minha mãe, a poetisa e cronista Dulce Pereira, e do meu irmão Pedro Henrique (já falecido). De primeira classe: apartamentos com beliches, e direito a frequentar o restaurante de bordo, cardápio variado e orquestra para animar bailes noturnos.
     Ao chegar à capital pernambucana o garoto de oito anos conhece a primeira metrópole de sua vida. Recife estava no auge. Ainda povoam intactas, na minha mente, imagens dos anúncios coloridos dos prédios do centro da cidade refletidos nas águas dos rios Beberibe e Capibaribe, a fonte luminosa do Parque 13 de Maio, o zoológico do Parque Dois Irmãos, os bondes (Fortaleza já havia desativado esse meio de transporte e eu não os conhecia), os pés de jambos, as ruas e bairros com nomes poéticos ou estranhos (ruas da Aurora, da Hora, do Hospício), a casa dos meus tios, primos e primas, na Rua Visconde de Suassuna e tantas outras lembranças.        Entre as curiosidades que podem causar estranheza ao visitante de primeira viagem é a existência de um bairro, no Recife, chamado Recife. Trata-se, na verdade, do Recife Velho, ou Recife Antigo, na área central, mas o povo de lá diz: “Vou ao Recife“ (referindo-se ao bairro).
     A Fortaleza do final da década de 1950, muito diferente da de hoje, era provinciana demais. O Recife deu-me o primeiro choque metropolitano.
      Depois, voltei mais vezes: adolescente, em 1967, no fusca do meu primo, o engenheiro Pedro Ney da Silva Pereira e, nos anos 80, mais viagens, de ônibus, de avião. As recordações agora giram em torno da Praia de Boa Viagem, dos ônibus elétricos (que duraram pouco em Fortaleza), dos cabarés do Recife Velho (já não existem mais).
     Em 2000, repeti o gesto de minha mãe: levei dois de meus filhos (Rebeca e Fernando, ela então adolescente, ele pré-adolescente), ao Recife, não mais de navio, mas de ônibus.  
    De A a Z
    
                               Urariano Mota

O Recife que conheci pela primeira vez em 1958 está no Dicionário do Urariano Mota (foto). O de 1958 e de outras décadas, mais distantes, mais próximas e atuais. Como se trata de um dicionário, a leitura pode ser iniciada por qualquer verbete, a gosto do leitor, pelo início, meio ou fim. Foi o que fiz logo que recebi o livro: li os verbetes que mais me interessavam de imediato, acompanhando pelo índice. Depois, “comecei do começo”, fui de A a Z. Maravilha.

    Brota das páginas o Recife com cheiro de mangue, de caranguejo, de frutas da terra e de urina que se sente ao passar pelas pontes dos rios Beberibe e Capibaribe. É o aroma da cidade. Sem esse conjunto de odores não se pode dizer que se está no Recife. Que o leitor viaje, de A a Z, nos verbetes, surfando no estilo agradável e escorreito de Urariano Mota.
     Não conheço pessoalmente o autor, mas sinto como se nós dois fôssemos amigos de longa data. Conheci-o no finado e saudoso Orkut e suas diversas “comunidades”, principalmente as relacionadas ao Nordeste, seus músicos e poetas, entre os quais o pernambucano Luiz Gonzaga e o cearense Humberto Teixeira. Debatemos muitos assuntos: música, Nordeste, política e literatura. Até a internet já tem seus saudosistas. Eu sou um dos saudosistas do Orkut.  
     Para não dizer que falei apenas de flores, senti falta, no Dicionário, de referências a outros ícones do Recife: da cirandeira Lia de Itamaracá; da Feijoada do Jaime (era no bairro Pina. Não existe mais), do lendário e erótico edifício Holiday (em Boa Viagem, um famoso “treme-treme”, semelhante ao Jalcy, da avenida Beira-Mar, de Fortaleza, só que muito maior); do Íbis Sport Club, “o pior time do mundo”. Recifense gosta de exagerar até quando reivindica título de pior.
     Mas há exemplos de exagero para melhor e maior. Um deles: dizem que os  rios Beberibe e Capibaribe se encontram no Recife para formar o Oceano Atlântico? Hein?
     Voltando às possíveis omissões que citei, é preciso reconhecer, no entanto, que o livro é um dicionário, não uma enciclopédia virtual para caber tudo o que a gente quer. Que o autor me perdoe a exigência excessiva.
      Vou citar – e comentar aqui –, sem observar ordem alfabética, apenas trechos de alguns verbetes (destacando graficamente as letras iniciais), que chamaram mais a minha atenção. Os demais leitores talvez tenham outras preferências. Que comprem o livro. Leiam todos os verbetes. Deleitem-se com o primoroso estilo do Urariano Mota. Eis a minha seleção:
Gilberto Freyre

 
Urariano Mota trata Gilberto Freyre (foto), o autor de Casa Grande & Senzala, com um respeito que beira a veneração, mas não deixa de criticá-lo com severidade. Para mim o ponto alto do livro é a análise feita por Mota sobre o grande sociólogo pernambucano:
     “Casa Grande & Senzala, dos livros de análise histórica surgidos no século XX, é para mim o que vai atravessar as nossas e vindouras gerações. Tem a qualidade de ser bem escrito, e bem escrito de tal forma que mais parece literatura, romance. Esse Freyre era um homem de extrema sensualidade, que tinha, entre outras perversões, o gosto da prosa. Não há livro científico tão bem escrito como Casa Grande & Senzala. Minto: talvez só A Origem dos Sonhos, de Freud”.  
Agora vem a crítica severa, mas não destruidora: “Mas ele é, seguramente, o homem que glorifica a colonização portuguesa. E, nesse caso, tão brasileiro pela dissolução da crueza com ares de fazer graça, entre um pigarro no cachimbo e um costume bárbaro, como quem dilui a violência com uma piada. (nota do blogueiro: um Gilberto Freyre precursor do cineasta Quentin Tarantino?) Nesse caso particular, é preciso vencer Gilberto  Freyre. Vencê-lo também de uma reação à influência avassaladora e paralisante. A sua orientação e influência, como uma gripe inescapável, se estendeu sobre a prosa e poesia dos nossos mais brilhantes escritores, de José Lins do Rego a Manuel Bandeira e Ascenso Ferreira...”Esse poder e esse encanto têm que ser mortos. Mas antes, ele deve ser muito estudado... Vencê-lo como uma forma de superação necessária. E muito estuda-lo, voltando a suas  luzes de escritor, de gênio. Superar é uma forma de assimilar a tradição”.
O Centro do Recife
     Descubro, para minha surpresa (nas minhas últimas visitas à cidade, quase sempre curtas, não cheguei a perceber essa transformação) que a área central do Recife se transferiu para outros lugares! Urariano fala do antigo centro, hoje decadente, principalmente à noite: “O centro do Recife era lugar onde a vida florescia, para o trabalho, para namorar, agir na política e na cultura. E o mais curioso era a percepção que nos assaltava persistente: o centro do Recife era eterno, ou dito de outra maneira, jamais mudaria. Guararapes, Bar Savoy, Cine Trianon, Aky Discos, Botijinha, Sorveteria Gemba, Bar da Brahma”.
       A boa surpresa: “O centro de Recife hoje não está mais compacto em um só lugar e direção”... “O centro da cidade se deslocou para o Recife Antigo, com a Livraria Cultura, com os prédios culturais dos Correios e da Caixa Econômica, com o Centro de Artesanato de Pernambuco e o Memorial Luiz Gonzaga. O centro emigrou para a Rua de Santa Cruz, onde se agita o Mercado Público da Boa Vista. Ele foi para o conjunto de bares enfileirados pelo Bar Central, na Mamede Simões, por trás Rua da Aurora, onde se concentram os músicos de choro do Recife”...“O centro corre também para o bairro de Boa Viagem, onde se criou o Parque Dona Lindu, com shows e concertos no fim de semana”.
Qual o gênero da cidade?
     É masculino. Urariano Mota explica na letra Q do dicionário: “O batismo da cidade veio desses muros aflorados por milênios na capital pernambucana: arrecife ou Recife”. O nome é masculino desde a origem. Diz mais: “Falar, dizer dE Recife, Em Recife, ou Recife, sem o artigo masculino antes, é o mesmo que renegar as mais belas vozes da cidade, e assim desprezar o excelente, que é o modo mais vil de ignorância”.
      O autor está correto. Ninguém diz: “Sou de Rio de Janeiro”. Rio, o curso d´água, é palavra masculina. O inverso também acontece: “Venho da Bahia” e jamais “venho de Bahia”. Baía, acidente geográfico que deu nome ao estado brasileiro, é palavra feminina. Os baianos referem-se também à capital, Salvador, como Bahia, porque se trata da Bahia de São Salvador. Mas isso é outra história.
     O gênero da cidade de Fortaleza é feminino. Vem da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, o antigo forte Schonenborch, tomado dos holandeses pelos portugueses no século XVII.
Sotaque do Recife
     Urariano Mota: “Leia-se, portanto, antes de mais nada, o título como “u sutáqui do Ricife”“. Na verdade, raro as nossas vogais “E” e “O” se pronunciam como se escrevem nas sílabas. Nem muito menos, como “ê” e “ô”, ave Maria. Aliás, “ave” é bem ilustrativa da variação, ora se pronuncia como “avi”, ora como “avé”, como se escuta nos cânticos das igrejas católicas do Nordeste. Assim também na palavra Recife, que ora é “Ricife”, ora é “Ré-cife”.
     O autor limita-se, no entanto, à questão fonética. Esquece um ponto importante: o ritmo do sotaque pernambucano ou recifense, apressado como o frevo. O fortalezense – ou quase todo cearense do litoral – percebe isso. E é notado também quando está no Recife. Também falamos cantado, mas o ritmo é diferente: mais lento, arrastado, como um baião, xote ou toada. Outro ponto: o pernambucano omite o artigo definido antes de nome próprio: “Você viu Maria?”, “você viu Paulo?”. O fortalezense diria: “Você viu a Maria?”, “Você viu o Paulo?”. Já o cearense do Cariri (Sul do Ceará) fala muito parecido com o pernambucano: na fonética, no ritmo, na linguagem e até na omissão dos artigos definidos antes dos nomes próprios.
     Dicionário Amoroso do Recife faz protesto que merece registro e apoio. O autor se insurge, com muita razão, à tentativa da TV Globo do Recife de modificar o sotaque pernambucano na linguagem dos repórteres e narradores de noticiários. ”Bê-bê-ri-be” (como o carioca diz) em vez de “Bi-bi-ri-be” (no autêntico linguajar pernambucano). Urariano está corretíssimo. Tentativa de alterar sotaque (ou fonética) de um povo é crime cultural.
Hélder Câmara
    
Este era um cearense de Fortaleza, recifense de coração, cidadão do mundo. Diz o Dicionário Amoroso do Recife: “Quem foi jovem no Recife, no Brasil depois de 1964 sabe: Dom Hélder Câmara (foto) era o arcebispo vermelho, o perigoso comunista disfarçado em padre, um ilustre morto-vivo cujo nome e fotos não apareciam nos jornais, apesar de ter sido o brasileiro mais famoso no mundo, depois de Pelé. A sua prática sacerdotal, em um Recife que vinha da pedagogia de Paulo Freire, de governos socialistas, longe estava da simples pregação da caridade, ou de se mostrar superior ao povo miserável. Ao mesmo tempo, os comunistas jamais pensaram, sequer por hipótese, que um arcebispo fosse um dos seus. Havia encontros, havia diálogos entre suas políticas, com mais de um ponto de conflito”.
...”Quem já leu suas crônicas, que em boa parte foram reunidas no livro Um Olhar sobre a Cidade, entenderá o que vou dizer. Para mim, ele escrevia textos modelares de crônicas radiofônicas. Nessas crônicas há um escritor, que deveria corar de vergonha muito imortal da Academia Brasileira de Letras”.
Mércia Albuquerque, advogada eterna
     Não poderia deixar de ter verbete especial para Mércia Albuquerque, notável advogada de presos políticos pernambucanos durante o período da ditadura militar. “A doutora Mércia Albuquerque era um ser passional... Mércia, mal saída da universidade, resolveu defender Gregório Bezerra porque viu o comunista arrastado por uma corda por uma corda no pescoço em 1964, em Casa Forte”.
     O Dicionário retrata bem a figura de Mércia Albuquerque. Lembro que Fortaleza teve também a sua Mércia Albuquerque: a figura elegante da advogada Wanda Rita Othon Sidou. Ou Recife teve a sua doutora Wanda? Dá no mesmo. Branca, com cabelo negro e uma charmosa mecha grisalha, a doutora Wanda – que também já partiu – foi o anjo da guarda dos presos políticos cearenses.
Ariano Suassuna
     No verbete sobre o Ariano Suassuna, Urariano Mota narra conversa que manteve com o autor de O Auto da Compadecida.
     “Um dia chegamos para entrevistá-lo, ao fim do horário de suas aulas na universidade. Isso foi há mais de quinze anos. Ele foi logo dizendo que tinha desistido da entrevista, acertada antes. Sentamo-nos então em um banco de  pedra, no pátio da Escola de Artes”.
     A conversa saiu melhor do que a cancelada entrevista formal. Ariano Suassuna falou sobre tudo. O autor do Dicionário Amoroso do Recife reconhece: “Por razões inesperadas, o que para um repórter é aquilo que não faz parte da agenda, não percebemos que a negação da entrevista era mentirosa”.
     Felizmente Urariano Mota reproduz no livro a “conversa-entrevista” de modo magistral. Que o leitor procure no livro. Não vou contar aqui.
Bar Savoy
     “Ele ficava na Avenida Guararapes, número 147”. Foi o primeiro bar do Recife no afeto, e podemos até dizer, o primeiro sem segundo. A memória desse bar deveria ser retida por todo pernambucano de origem ou formação.
“Nele passaram geração de intelectuais, escritores e artistas que honrariam qualquer cidade do mundo. Os broncos lembram logo os nomes de Sartre e Rosselini, que um dia foram às mesas do Savoy no Recife. Mas com todo o respeito e débito ao filósofo e ao cineasta, não digo que passaríamos bem sem eles – o nosso espírito rude e selvagem jamais chegaria a tanto – mas digo que Sartre e outros apenas se somaram a esta, vá lá, com o devido perdão da palavra, a esta plêiade: Aloísio Magalhães, Osman Lins, Ascenso Ferreira, Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna, Capiba, Lula Cardoso Ayres, Vicente do Rego Monteiro, Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Mauro Mota, João Cabral, Gilberto Freyre... e para o  gosto particular do Savoy e dos recifenses mais líricos, a sua maior estrela: o peso pluma Carlos Pena Filho”.
Nelson Rodrigues
     “O recifense Nelson Rodrigues, desde o nascimento em uma sexta 23 de agosto de 1912, atravessou muitas vidas e rostos. E contradições das mais diversas, entre elas até sua origem de nascimento e natureza. Por exemplo, já aqui  escrevemos recifense, e nisso não houve qualquer despropósito para um escritor tido tantas vezes como carioca. Pois falam sempre de Nelson como um escritor do Rio pelos temas e formação, quando nada falam por haver chegado aos 4 anos de idade à cidade do Rio de Janeiro”, relata o Dicionário Amoroso do Recife.
     Urariano Mota atribui – e fundamenta sua opinião --  “os delírios patológicos” dos personagens do grande dramaturgo brasileiro a “um certo tenebroso Pernambuco”, “à repressão sexual da Casa Grande de Pernambuco”.
     Vou parar por aqui, porque, empolgado, posso acabar não deixando nada para o leitor saborear. O Dicionário tem outros verbetes impressionantes, tais como: Clarice Lispector e o frevo; Final de Copa do Mundo; Frevo novo, jovem e arretado; Gente do Recife; Igrejas do Recife; Joaquim Nabuco, um profeta do Brasil; Kahal Zur Israel, a sinagoga das Américas; Mercado de Água Fria; Olinda abre o carnaval do Recife; Reginaldo Rossi, o rei dos sem rei; Teatro de Santa Isabel e muitos outros.

     São 338 páginas, em livro editado pelo Casarão do Verbo, com capa de Carlos Alberto Zitelli Júnior, e ilustrações de Leonardo Filho.    oraHoraH

domingo, 25 de janeiro de 2015

PRÊMIO VERDADEIRO MÁRIO LAGO SERÁ ENTREGUE NESTA SEGUNDA-FEIRA NO RIO


Ator, compositor, poeta e escritor Mário Lago
O Prêmio Verdadeiro Mário Lago será entregue nesta segunda-feira, às 20 horas, no Espaço Bip Bip, no Rio de Janeiro. Trata-se de resposta da família do ator e compositor à concessão do Troféu Mário Lago 2014 ao jornalista, editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional (Rede Globo), William Rede Bonner, no último dia 21 de dezembro.
A honraria vem sendo concedida pela Rede Globo desde 2001 e o primeiro homenageado foi o próprio Mário Lago, falecido em 30 de maio de 2002. O Troféu Mário Lago 2013 foi outorgado à atriz Fernanda Montenegro.
JN TENDENCIOSO
William Bonner destacou-se em 2014 pela extrema rispidez com que tratou a presidenta e então candidata à reeleição Dilma Rousseff, em entrevista no Jornal Nacional, destoando com o tratamento dispensado  a outros candidatos (as) no mesmo programa. A falta de modos do apresentador foi acompanhada pela jornalista Patrícia Poeta, colega de Bonner na apresentação do JN, que chegou a “abanar” o rosto da presidenta da República com as mãos.
Além disso, a cobertura do Jornal Nacional foi considerada pelos críticos da Rede Globo como excessivamente tendenciosa: implacável com a candidata do PT e muito benéfica a Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB).
O próprio William Bonner teve de anunciar, entre constrangido e pesaroso, a vitória de Dilma Rousseff no dia 26 de outubro de 2014, no segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, considerada uma das mais dramáticas e disputadas da história do País.
NOJO
Graça Lago: "JN é panfleto global"
"Meu pai, Mário Lago, merece respeito. Enojada e revoltada com a farsa que foi o Prêmio Mário Lago 2014. Com a audiência do JN despencando, o premiado foi o editor geral do panfleto global. E tome elogios ao jornalismo da Globo, à "ética, lisura e imparcialidade" do JN, à maneira "firme, mas respeitosa" como Bonner conduziu as entrevistas com os presidenciáveis, ao serviço prestado pelo JN à moralização do país... E tome pau nas redes sociais "instrumentalizadas pelos partidos" para atacar a globo e seu jornalismo. Nojo. Lá no infinito papai e mamãe devem ter ficado muito revoltados. E atenção, Rede Globo, não sou instrumentalizada por ninguém ou por nada. Sei pensar, refletir, fazer escolhas, opinar, me posicionar", escreveu Graça em seu perfil no Facebook, no último dia 25 de dezembro. Graça Lago tem recebido, desde então, diversas manifestações de solidariedade. Choveram pedidos de amizade no seu perfil no Facebook.
PRÊMIO VERDADEIRO
Graça Lago, filha do grande ator, poeta e compositor Mário Lago, anunciou ontem, sábado (24/1) no Facebook: “E nasceu! No próximo dia 26 de janeiro, no espaço etílico democrático do Bip Bip, vamos anunciar o prêmio desagravo VERDADEIRO MÁRIO LAGO. O grande júri, composto por Paulo Cesar Figueiredo, Marcio Brant, Mario Filho Lago Mario e eu (Graça Lago), teve algumas dúvidas tão excepcionais foram as indicações - os blogs progressistas, Aldir Blanc e. ... a ganhadora.
Carioca, sambista, botafoguense, mangueirense, cantora da primeira linha, militante das causas democráticas e populares, guerreira, ela foi a grande escolhida.
Em honra da memória de Mário Lago, o prêmio irá para.Mais detalhes, no dia 26 de janeiro, às 8 da noite, no Bip Bip”.
Graça Lago faz mistério, mas pelo perfil que ela descreve, não é difícil deduzir que a homenagem será entregue à cantora e sambista Beth Carvalho.
ESPAÇO BIP BIP
O Espaço Bip Bip, localizado na rua Almirante Gonçalves, nº 50, em Copacabana, é considerado o símbolo da cultura e da esquerda carioca: Sobre o point, diz Luísa Côrtes, em reportagem no jornal “Brasil de Fato”: “Diariamente é possível ouvir o melhor do samba, choro e bossa-nova, em uma roda democrática, em que os músicos sentam ao redor da mesa e os frequentadores colaboram fazendo o coro das canções.
Já para quem deseja conversar, o próprio Alfredinho recomenda o bar da frente. “Aqui a prioridade é a música, todos tocam sem receber cachê, pagando sua própria cerveja, o mínimo que devemos é respeitar e fazer silêncio”, costuma pedir em seus famosos “esporros”, que já viraram aplicativo em redes sociais”.
MÁRIO LAGO, MILITANTE COMUNISTA
Filho do maestro Antônio Lago e de Francisca Maria Vicencia Croccia Lago, e neto do anarquista e flautista italiano Giuseppe Croccia, formou-se em Direito pela Universidad do Brasil, em 1933, tendo nesta época se tornado marxista. A opção pelas idéias comunistas fizeram com que fosse preso em sete ocasiões:1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969.
Foi casado com Zeli, filha do militante comunista Henrique Cordeiro, que conhecera numa manifestação política, até a morte dela em 1997. O casal teve cinco filhos: Antônio Henrique, Graça Maria, Mário Lago Filho, Luís Carlos (em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes) e Vanda.
Torcedor do Fluminense Football Club, chegou a declarar, na época do primeiro rebaixamento do clube, que a virada de mesa em favor do tricolor carioca havia sido uma atitude vergonhosa de todos os responsáveis, envolvidos no esquema. Ele afirmava veementemente, que o time deveria ter voltado à divisão de elite do Campeonato Brasileiro no campo, e não no tapetão.
CARREIRA ARTÍSTICA
Começou pela poesia, e teve seu primeiro poema publicado aos 15 anos. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na década de 30, na então Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua militância política no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, então fortemente influenciado pelo Partido Comunista do Brasill, PCB. Durante a década de 1930, a então principal Faculdade de Direito da capital da República era um celeiro de arte aliada à política, onde estudaram Lago e seus contemporâneos Carlos Lacerda, Jorge Amado, Lamartine Babo entre outros.
Depois de formado, exerceu a profissão de advogado por apenas alguns meses.  Envolveu-se com o teatro de revista, escrevendo, compondo e atuando. Sua estreia como letrista de música popular foi com Menina, eu sei de uma coisa, parceria com Custódio Mesquita, gravada em 1935 por Mário Reis. Três anos depois, Orlando Silva realizou a famosa gravação de Nada além, da mesma dupla de autores.
Suas composições mais famosas são Ai que saudades da Amélia, Atire a primeira pedra, ambas em parceria com Ataulfo Alves; É tão gostoso, seu moço, com Chocolate, Número um, com Benedito Lacerda, o samba Fracasso e a marcha carnavalesca Aurora, em parceria com Roberto Roberti, que ficou consagrada na interpretação de Carmen Miranda.
Em Amélia, a descrição daquela mulher idealizada, ficou tão popular que Amélia tornou-se sinônimo de mulher submissa, resignada e dedicada aos trabalhos domésticos.
Na Rádio Nacional, Mário Lago foi ator de Rádio, ele atuou na radionovela, especial da Semana Santa em 27 de Março de 1959: A Vida de Nosso Senhor jesus Cristo, interpretando Herodes, e também roteirista, escrevendo a radionovela Presídio de Mulheres. Mas só ficou conhecido do grande público mais tarde, pela televisão, quando passou a atuar em novelas da Rede Globo, como Selva de Pedra, O Casarão, Nina, Elas por Elas e Barriga de Aluguel, entre outras. Também atuou em peças de teatro e filmes, como Terra em Transe, de Glauber Rocha.
Mário esteve na União Soviética. Mas os programas radiofônicos produzidos no Brasil, que Mário mostrou aos soviéticos, foram por eles qualificados de "burgueses" e "decadentes". A avaliação que Mário Lago fez da União Soviética também não foi das melhores. Ali, segundo ele, a produção cultural sofria pelo excesso de gravidade e autoritarismo. Apesar da decepção com a experiência soviética, Mário Lago jamais abandonou a militância política. 4
Em 1964, foi um dos nomes a encabeçar a lista dos que tiveram seus direitos políticos cassados pelo regime militar, e perdeu suas funções na Rádio Nacional.1
Durante a segunda metade da década de 1960, Mário Lago passou a aparecer com frequência no cinema, participando com atuações marcantes em filmes importantes como O Padre e a MoçaOs Herdeiros e Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite. Na década de 1970, iniciou uma carreira de sucesso como ator de telenovelas, com destaque para Cavalo de Aço e O Casarão.
Em 1989, ligou-se ao Partido dos Trabalhadores e atuou como âncora dos programas eleitorais do então candidato do partido, Luís Inácio Lula da Silva, à presidência da República, em 1998.
Autor dos livros Chico Nunes das Alagoas (1975), Na Rolança do Tempo (1976), Bagaço de Beira-Estrada (1977) e Meia Porção de Sarapatel (1986), foi biografado em 1998 por Mônica Velloso na obra: Mário Lago: boêmia e política.
No carnaval de 2001, Mário Lago foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz.
Em dezembro de 2001, recebeu uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Melhores do Ano do Domingão do Faustão, que, no ano seguinte, ganharia o nome de Troféu Mário Lago, sendo anualmente concedido aos grandes nomes da teledramaturgia.
Em janeiro de 2002, o presidente da Câmara, Aécio Neves, foi à sua residência no Rio para lhe entregar, solenemente, a Ordem do Mérito Parlamentar. Na sua última entrevista ao Jornal do Brasil, Mário revelou que estava escrevendo sua própria biografia. Estava certo de que chegaria aos 100 anos, dizia Mário, "Fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele".
Morte
Morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de idade, em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, de enfisema pulmonar. Para o velório foi aberto o palco do Teatro João Caetano onde vivera importantes momentos de sua carreira de ator.1 Até o fim de sua vida manteve intensa atividade política e mesmo doente chegou a se engajar na campanha presidencial apoiando o então candidato Luís Inácio Lula da Silva. Por ter sido estudante do Colégio Pedro II da Unidade São Cristóvão, hoje em dia existe, em sua homenagem, dentro do colégio o Teatro Mário Lago, onde ali se faz apresentações culturais de todas as unidades do colégio desde teatro até apresentações dos corais das unidades. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. (Fonte da biografia: Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Lago)






quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Marco Archer, o homem que não deveria ter morrido

     

Marco Archer


Caryl Chessman

“Chessman não deve morrer”. Era o título da campanha promovida pela Rádio Dragão do Mar em 1960, há quase 55 anos, em favor da vida de um condenado à morte: o norte-americano Caryl Chessman. A justiça dos Estados Unidos o havia considerado culpado de crimes gravíssimos: assaltos à mão armada e estupros.
     Lutou até o fim por sua vida. Na prisão, escreveu livros que se tornaram best-sellers, nos EUA e em vários países, nos quais narrava episódios da infância, juventude e maturidade: 2455: Cela da Morte, A Face Cruel da Justiça, A Lei Quer Que Eu Morra, O Garoto Era um Assassino (romance).
     O então papa João XXIII, outros líderes políticos e religiosos mundiais, escritores, escritoras, atores e atrizes de Hollywood pediram pela vida de Caryl Chessman.
     A Rádio Dragão do Mar, de Fortaleza, fez uma campanha emocionante. Outras emissoras de rádio brasileiras e internacionais se engajaram na causa. De nada adiantou.
     Detalhe: toda essa mobilização para salvar a vida de alguém condenado por estupro, considerado o crime mais desprezível na escala da marginalidade. Os estupradores são rejeitados até por detentos autores de outros delitos.
     O então presidente norte-americano Dwight Eisenhower, um dos comandantes aliados da Segunda Guerra Mundial, recebeu apelos de todas as partes do mundo, mas não os atendeu. Também não acusou os apelantes de interferência na justiça dos EUA. Os pedidos foram feitos e Einsenhower os negou. Tão simples.
     Chessman foi asfixiado na câmara de gás no dia 2 de maio de 1960, no Presídio de San Quentin, Estado da Califórnia (EUA).
Até hoje há quem acredite na inocência de Chessman. Tudo indica, porém, que ele era culpado.
     Quase 55 anos depois, em janeiro deste 2015, a história se repete, com o fuzilamento do brasileiro Márcio Archer Cardoso Moreira, carioca de 53 anos, no último sábado (17/1, às 15h31, no horário de Brasília) ou domingo (18/1) pelo horário da Indonésia.        Archer, instrutor de voo livre, estava preso no país asiático desde 2004, quando foi flagrado no Aeroporto Internacional de Jakarta com 13,4 kg de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. Conseguiu fugir, mas foi recapturado 15 dias depois.
       Nesse período, mudaram apenas as ferramentas da mídia. O poderoso rádio e a inexperiente televisão do fim dos anos 50 e início da década de 60 dão lugar hoje à tevê a cabo e, principalmente, à internet, a maravilha do fim do século XX e início do XXI. A rede de computadores se popularizou –  e também se aperfeiçoou – em velocidade geométrica. 
     As redes sociais – o Facebook ainda é a principal – competem com a grande mídia e às vezes a superam na desmistificação de “verdades” impostas pelos grandes jornais, revistas e emissoras de televisão. O que é mostrado como certo na grande mídia é desmascarado como errado nas redes sociais. E vice-versa.
      Mas o episódio do fuzilamento do traficante brasileiro mostra, de maneira patética, o lado bom e mau da sociedade.  Rachel Scherazade, a musa da nova direita, saiu-se com essa em comentário no SBT: "Aqui se faz, aqui se paga". Milhares se manifestaram a favor do apelo do governo brasileiro pela vida de Marco Archer. Apelo, pedido, súplica. Nunca houve intromissão da presidenta Dilma Roussef nas questões jurídicas indonésias. Em favor da vida. Não da libertação de Marco Archer. Fez o que qualquer governante comprometido com a causa dos direitos humanos faria. A Organização das Nações Unidas (ONU) também proferiu, depois de Dilma, veemente apelo no sentido de que a Indonésia suspenda as execuções (outros traficantes aguardam o fuzilamento).
     A Presidenta destacou, na nota enviada ao seu colega indonésio,  “ter consciência da gravidade dos crimes cometidos pelos brasileiros”. (há outro condenado brasileiro, o paranaense Rodrigo Gularte).  Declarou “respeitar a soberania da Indonésia e do seu sistema judiciário, mas “como Chefe de Estado e como mãe, fazia esse apelo por razões eminentemente humanitárias”.  A Presidenta lembrou que “o ordenamento jurídico brasileiro não comporta a pena de morte e que seu enfático apelo pessoal expressava o sentimento da sociedade brasileira”.
     Mas os “doidinhos do Facebook”, como diz o meu amigo João Otávio Lobo, não entendem (ou não querem entender) esse apelo em favor da vida. E não são apenas os desinformados. Um professor de Jornalismo torna pública essa joia rara de pensamento:  “Dilma quer mudar as leis da Indonésia”!!!!(pontos de exclamação meus). Um scholar com mentalidade de comentarista de programa policial.
     Outro se apresenta como advogado e exibe mais um diamante lapidado: “Vamos respeitar. mesmo porque a Indonésia é um país lindo, paradisíaco, não tolerando a marginalidade. Assim observado os trâmites legais, a execução foi justa, embora achando eu que a pena de morte aplicada em NY. é mais humana ou seja sem estardalhaços, rápida e indolor. ou seja na base da agulha”. O estilo balofo, a expressão “pena de morte mais humana”, a falta de vírgulas e o abuso do gerúndio ficam por conta do jurista.
     A novidade agora, depois do caso Archer, é a apologia da pena de morte e apontar a Indonésia como modelo a ser seguido pelo Brasil. Que pobreza mental. Há notícias de que Marco Archer se drogava com metanfetaminas na prisão, adquirida com subornos de guardas corruptos. A Indonésia é mesmo um país exemplar? Tenho seríssimas dúvidas.
     Lamentável. A direita brasileira não conhece outra forma de debate político que não seja o da truculência, da defesa de causas policialescas e bárbaras e o combate a teses já consagradas internacionalmente: a rejeição da pena de morte é uma delas. Já entram derrotados nesse embate.
      Olavo  de Carvalho, Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo representam o que há de pior no Brasil em termos de pensamento obscurantista, medieval, retrógrado. 
      Entre os antiesquerdistas da mídia, Luiz Felipe Pondé é o único identificado com a visão liberal e antiautoritária do mundo.
        Os demais citados por mim, antes de Pondé, estão à direita de Adolf Hitler. O que dizer dos seus seguidores cearenses? Patéticos, ridículos.




segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

LIA DE ITAMARACÁ: 71 ANOS DE CIRANDA



           Um metro e 80 cm de altura. Ela tem o porte e a dignidade de uma entidade mitológica africana e o nome de batismo de uma santa cultuada pelo Cristianismo, a amiga e discípula de Jesus Nazarena: Maria Madalena Correia do Nascimento. Trata-se da lendária Lia de Itamaracá, cirandeira pernambucana de renome internacional, completa hoje, nesta segunda-feira (12/1/15), 71 anos de idade, ou seja, 71 anos de ciranda. Ela é também cantora de coco e  maracatu. Nasceu em 12 de janeiro de 1944.
          Desde criança, Maria Madalena ou Lia de Itamaracá, participa das rodas de ciranda da ilha de Itamaracá, situada na Região Metropolitana do Recife (PE). Segundo Lúcia Gaspar, bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco, ciranda é uma dança típica das praias que começou a aparecer no litoral norte de Pernambuco. Uma das cirandeiras mais conhecidas é a Lia de Itamaracá. Surgiu também, simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado. É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela é conhecida como uma dança de rodas de adultos. Os participantes podem ser de várias faixas etárias, não havendo impedimentos para a participação de crianças também".
          Lia dançava e cantava ciranda no anonimato, por uma questão atávica, até a década de 1960, quando a cantora Teca Calazans a descobriu e gravou composição com versos da pernambucana. Eis um trecho: 
       "Esta ciranda quem me deu foi Lia,
        que mora na Ilha de Itamaracá"
        
    Em 1977, Lia gravou o primeiro disco (LP) com o título "A Rainha da Ciranda". Passou a ter projeção nacional quando participou do evento Abril Pro Rock, em 1998, no Recife. Depois, vieram mais discos "Eu Sou Lia" (CD), de 2000, que foi divulgado na  França; e "Ciranda de Ritmos (CD), de 2008.


       

     Sobre Lia de Itamaracá diz Hermínio Bello de Carvalho: "Bonita. essa Lia! Enorme mulher de metro e oitenta. Os cabelos desarrumados, blusa florida e calça jeans, pés gigantescos em sandália de couro cru. Não está nada à vontade, devemos ser mais alguns daqueles forasteiros que vêm para lhe tirar fotografias, posar ao lado se possível com um sorriso que por enquanto economiza, como também raciona as palavras. Mais mimetiza do que fala. Dona Creusa parece um pouco a Neuma da Mangueira, bonita como ela. Cabelos brancos, manda renovar a cerveja e a cachaça, os filés de agulha. Queixa-se do preço do camarão, diz que todo ano tem Festival de Cirandas, mas que a vontade dela é botar ali em freme do bar uma espécie de palco cheio de luz. Para que Lia cante e cirandeie. No espaço que tinha, ergueram um barraco inútil que só atrapalhou a vida do bar. "E vive de que a Lia?" Da profissão de merendeira escolar. empregada do Estado. "Ganho salário". Quer dizer: esse mísero salário mínimo, que é uma vigésima parte do preço de uma diária das suítes presidenciais que nós pagamos para nossa primeira-dama desfilar seu eterno sorriso, coisa aliás muito rara no rosto de Lia, a de Itamaracá".