terça-feira, 31 de julho de 2012

Redes antissociais


 Com as eleições municipais de 2012, as redes sociais, tipo Facebook, Twitter e Orkut, entre outras, transformaram-se em verdadeiras redes antissociais, com eleitores engajados nas campanhas eleitorais a atacarem furiosamente os adversários, com muitas exceções, é claro.
          Alguns divulgam propostas dos postulantes aos cargos de prefeito e vereador, mostram fotos dos eventos e visitas dos políticos a vários locais. Até aí, tudo bem. Nada contra. Rede social é para isso, entre outras coisas. Eu não me incomodo em receber posts de candidatos que não apoio. Se ele, o candidato, for radical e raivosamente contra as minhas ideias, eu apenas apago o post, mas não bloqueio o (a) amigo (a) que o enviou. Uma provocaçãozinha, de vez em quando, é até salutar, mas quando os ataques são constantes – e alguns deles de gosto duvidoso – passo a indagar o porquê de tanta indignação.
          Exemplo concreto, contudo, chamou-me a atenção nessa “guerra virtual” no Facebook, de maneira mais específica, porque partiu de pessoa que conheço desde a infância/pré-adolescência – tempos da escola da professora Jarina, perto da Igreja dos Navegantes, no Jacarecanga, em Fortaleza – e, depois, no movimento estudantil – por quem tenho admiração, estima e respeito. Trata-se do professor João Arruda Pontes, do Curso de Ciências Sociais da UFC, estudioso da Guerra de Canudos (tem livros publicados), ex-pró-Reitor de Assuntos Estudantis e atual diretor da Casa de José de Alencar.
          Não é que João Arruda faz, há cerca de um ano, ataques sistemáticos pelo Facebook à prefeita Luizianne Lins, extensivos, desde que se começou a falar em sucessão municipal ao pré-candidato dela à Prefeitura, inicialmenteWaldemir Catanho e, depois, ao candidato Elmano Freitas.
          Quem sou eu para cercear a liberdade de opinião de ninguém! João Arruda tem o direito de apoiar e atacar quem ele quiser. Até o “cão”, para utilizar expressão de Luizianne Lins. O problema é que os ataques (tentei contar, mas desisti, são muitos!) estão a prejudicar a imagem dele, João Arruda, um intelectual que, devido a essa condição, deveria ter  outra postura.
          Só lembrando: não voto em Elmano Freitas. Voto em Inácio Arruda (PCdoB).
       
          

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Breguice no Metrofor: Vila das Flores vira Carlito Benevides


         


          O Metrô de Fortaleza (Metrofor) já corre nos trilhos, pelo menos na linha Sul (que liga Pacatuba e Maracanaú ao Centro de Fortaleza), não em caráter oficial. A notícia alvissareira veio acompanhada de grande decepção. Nomes de antigas estações, já consagrados pela população usuária dos velhos trens urbanos, foram substituídos por outros: Vila das Flores virou Carlito Benevides, Pajuçara agora é Rachel de Queiroz, Novo Maracanaú foi rebatizada de Virgílio Távora, Lagoinha passou a ser José de Alencar, João Felipe é Xico da Silva (com xis mesmo!)...
          Os demais pontos de parada, por enquanto, até segunda ordem, permanecem os mesmos: Alto Alegre, Aracapé, Esperança (pouca mudança: era Conjunto Esperança), Mondubim, Manoel Sátiro, Vila Pery, Parangaba, Couto Fernandes, Porangabussu e Benfica.
          Fica difícil alguém tentar entender mentalidade tão subdesenvolvida. O governador Cid Gomes teria coragem, quando prefeito de Sobral, de ter trocado o nome do Beco do Cotovelo por outro, com o objetivo de homenagear algum sobralense ilustre? Claro que não. Os sobralenses reagiriam e ele respeita a terra natal dele. Mas, como não tem nenhum compromisso com a Região Metropolitana de Fortaleza, Cid Gomes não está nem aí... Outras mudanças virão, para pior, é claro.
          Nada tenho contra os homenageados. Carlito Benevides, Chico da Silva, Rachel de Queiroz e José de Alencar (esses três últimos, principalmente) merecem todas as honrarias possíveis. Custava alguma coisa batizar novas obras que estão  a surgir com os nomes dessas personalidades? Nada. O problema é enxovalhar  a memória histórica e sentimental da população. Tudo é válido para essas autoridades bregas. 

sábado, 14 de julho de 2012

A sorte está lançada



Sete candidatos a prefeito competitivos! Coisa inédita em Fortaleza. Três apenas para registrar presença. Saúde, educação, segurança e trânsito, nessa ordem, são temas centrais da campanha municipal. Foi o que mostrou a webtv DN no primeiro debate na internet entre candidatos na história da política cearense. Partiu na frente e marcou época. E os resultados foram bons. O assunto ocupou um dos maiores destaques nas redes sociais, principalmente no Twitter. O perfil @diarioonline  bombou – para usar expressão preferida dos internautas – nos trends maps (mapas de tendências) em Fortaleza, site que mede os termos mais comentados no Twitter em cada cidade.
Participaram todos os 10 candidatos a prefeito  de Fortaleza: As discussões foram de alto nível. Merece também destaque a mediação firme e serena do jornalista Edison Silva.
Outros debates virão, é claro, mas, com o que se viu na quinta-feira,  tem-se ideia do desempenho dos postulantes ao cargo de prefeito de Fortaleza. Alguns candidatos vão melhorar  outros piorar, mas vamos nos ater à refrega (no bom  sentido) inicial. Nessa análise, vou procurar mostrar o que considerei pontos fortes e pontos fracos dos candidatos no histórico encontro da webtv DN. É público e notório que eu tenho candidato – vejam minha página no Facebook – mas aqui vou procurar separar-me da figura do simples eleitor e exercer o papel do comentarista. Se isso não for cumprido, corrijam-me e repreendam-me, por favor.
Voltando ao que disse no começo, considero competitivos, por ordem alfabética, os candidatos: Elmano de Freitas (PT), Heitor Férrer (PDT), Inácio Arruda (PCdoB), Marcos Cals (PSDB), Moroni Torgan (DEM), Renato Roseno (PSOL) e Roberto Cláudio (PSB).
Os melhores momentos do debate, no entanto, ficaram por conta de Renato Roseno e Marcos Cals. O candidato do PSOL, ao interpelar o concorrente do PSB, Roberto Cláudio, referiu-se a “previsões de gastos milionários” da parte da campanha adversária e, com desembaraço, lembrou o adágio popular: “Quem paga a banda, escolhe a música”. Por sua vez, Roberto Cláudio demonstrou segurança na resposta e lembrou ter criado o Painel da Transparência na Assembleia Legislativa (é o presidente da Casa), segundo ele, o primeiro parlamento do Brasil, a implantar tal prática.
Marcos Cals foi muito incisivo com Inácio Arruda, com o cuidado de não ser deselegante. Ao contrário, sorriso franco e gestos largos, tratou o concorrente de “meu amigo”, mas bateu forte: “Vocês (referindo-se ao PCdoB) acompanharam, elegeram e reelegeram Luizianne Lins, por que não deram contribuição para resolver o caos do trânsito?”. O senador também se manteve sereno. Não renegou ter dado apoio a Luizianne Lins, mas lembrou que Marcos Cals foi secretário do governo Cid Gomes e agora está na oposição. Sobre o caos no trânsito e outros problemas graves da cidade, Inácio Arruda atribuiu a culpa maior ao ex-prefeito Juraci Magalhães, que “liquidou o Instituto de Planejamento”, mas reconheceu que falta também planejamento na administração atual do Município.  Marcos Cals, na réplica, sem perder a ternura, foi demolidor: “Estou satisfeito, Inácio disse que eles foram incapazes, eles, é claro, na condição de apoiadores da gestão  municipal”, com a ressalva no final, no estilo morde e sopra. Caberia a Inácio ter solicitado direito de resposta pelo tratamento de “incapaz” a ele atribuído injustamente por Cals, mas não o fez.
Após mostrar o que achei pontos altos do debate passo agora a fazer análise individual do desempenho de cada candidato no debate, conservando a ordem alfabética:
- Elmano  Freitas (PT) demonstra desembaraço e conhecimento dos problemas da cidade e faz o que pode para mostrar as realizações da prefeita Luizianne Lins e rebater críticas à gestão municipal. Advogado por formação, ele articula bem as frases, mas lhe falta mais convencimento no discurso. Demonstra, no entanto, que veio disposto a vencer.
- Heitor Férrer (PDT), médico, tem na saúde o seu ponto forte.  Fala com absoluto conhecimento de causa e apresenta soluções e dados. É outro que está no páreo, não obstante as limitações do partido.
- Inácio Arruda (PCdoB) melhorou impostação vocal, fala também com conhecimento de causa e é bom argumentador. Por isso mesmo, deveria ter sido mais firme com Marcos Cals. Dá ênfase ao planejamento urbano e destaca o Instituto da Cidade. Vive, no entanto, a incômoda posição de não ser oposição nem situação nos planos municipal e estadual.
- Marcos Cals (PSDB) mostrou que sabe abordar temas polêmicos e incômodos para adversários sem precisar agredi-los verbalmente. No debate apresentou proposta inovadora e viável: postos de cidadania (para obtenção de carteiras de identidade e do trabalho, além de outros documentos e serviços) nos terminais ônibus, pontos de grande afluência de pessoas.
- Moroni Torgan (DEM) mostrou-se sereno, sem o discurso do “prendo, arrebento”, o que já se observava na última campanha que concorreu. Fugiu do tom raivoso que lhe trazia rejeição em setores da classe média. É o que melhor sabe usar a televisão. É candidato forte a uma vaga no segundo turno. A pulverização de candidatos competitivos é faca de dois gumes: pode beneficiá-lo ou atrapalhá-lo. Tudo vai depender do desenrolar dos acontecimentos,
- Renato Roseno (PSOL) encarna a oposição de esquerda. A oposição de direita está a cargo de Moroni e Marcos Cals. No debate foi o único que peitou Roberto  Cláudio ao abordar tema delicadíssimo  para o postulante do PSB: o financiamento milionário da campanha deste último por empresários. Num eleitorado indômito como o de Fortaleza, Roseno pode surpreender, apesar da fragilidade extrema do partido.
- Roberto Cláudio, a exemplo de Moroni, sabe utilizar muito bem a televisão. Tem discurso que pode convencer setores do eleitorado, apresenta dados, bons argumentos e fala com muita desenvoltura. Difícil é se livrar da pecha de candidatos dos ricos, mas está disposto a tudo para ganhar.
Os três outros candidatos marcam apenas presença. Francisco Gonzaga (PSTU), respeitado líder operário da construção civil, reforça o posicionamento ideológico e o discurso “contra burguês”. André Ramos (PPL) tenta seguir caminho semelhante, com mais moderação. No debate, o mais fraco dos três – e o mais escolarizado (é professor) – foi Valdeci Cunha (PRTB). Chamou professores de “violentos”, sem saber que hoje professor apanha da polícia e ainda morre de medo dos alunos nas salas de aula. Acusou médicos de “tratarem mal” pacientes nos hospitais públicos, desconhecendo a pressão que sofrem os profissionais de saúde, alguns chegam  a sofrer de depressão diante desse quadro de horror.
ESTADO ESPETÁCULO
O debate da webtv DN ensejou excelente conversa entre o autor deste blog e meu colega, amigo e parceiro de projeto editorial Salomão de Castro, expert em marketing político. Com ele, hauri excelentes lições sobre o tema. Salomão, que fez curso de marketing político, falou-me sobre o livro O Estado espetáculo, do sociólogo francês Roger-Gérard  Schwartzenberg no qual o  autor aborda quatro perfis que podem desempenhar os atores políticos: o herói (a heroína), o pai (ou mãe), o (a) líder charme e o homem (mulher) simples. Às vezes, um político desempenha dois ou, no máximo, três, desses papéis, jamais quatro, porque alguns são excludentes. Lula, por exemplo, começou nas lutas políticas como homem simples, mas, na Presidência, com os sucessos na área social, assumiu a condição de pai. Como exemplo de excludência, o líder charme dificilmente se enquadra no papel de homem simples.


Nos sete candidatos a prefeito de Fortaleza quais os que se enquadram nesses papéis? Já fiz minhas elucubrações, agora as deixo a cargo do leitor/internauta.