segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

LIA DE ITAMARACÁ: 71 ANOS DE CIRANDA



           Um metro e 80 cm de altura. Ela tem o porte e a dignidade de uma entidade mitológica africana e o nome de batismo de uma santa cultuada pelo Cristianismo, a amiga e discípula de Jesus Nazarena: Maria Madalena Correia do Nascimento. Trata-se da lendária Lia de Itamaracá, cirandeira pernambucana de renome internacional, completa hoje, nesta segunda-feira (12/1/15), 71 anos de idade, ou seja, 71 anos de ciranda. Ela é também cantora de coco e  maracatu. Nasceu em 12 de janeiro de 1944.
          Desde criança, Maria Madalena ou Lia de Itamaracá, participa das rodas de ciranda da ilha de Itamaracá, situada na Região Metropolitana do Recife (PE). Segundo Lúcia Gaspar, bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco, ciranda é uma dança típica das praias que começou a aparecer no litoral norte de Pernambuco. Uma das cirandeiras mais conhecidas é a Lia de Itamaracá. Surgiu também, simultaneamente, em áreas do interior da Zona da Mata Norte do Estado. É muito comum no Brasil definir ciranda como uma brincadeira de roda infantil, porém na região Nordeste e, principalmente, em Pernambuco ela é conhecida como uma dança de rodas de adultos. Os participantes podem ser de várias faixas etárias, não havendo impedimentos para a participação de crianças também".
          Lia dançava e cantava ciranda no anonimato, por uma questão atávica, até a década de 1960, quando a cantora Teca Calazans a descobriu e gravou composição com versos da pernambucana. Eis um trecho: 
       "Esta ciranda quem me deu foi Lia,
        que mora na Ilha de Itamaracá"
        
    Em 1977, Lia gravou o primeiro disco (LP) com o título "A Rainha da Ciranda". Passou a ter projeção nacional quando participou do evento Abril Pro Rock, em 1998, no Recife. Depois, vieram mais discos "Eu Sou Lia" (CD), de 2000, que foi divulgado na  França; e "Ciranda de Ritmos (CD), de 2008.


       

     Sobre Lia de Itamaracá diz Hermínio Bello de Carvalho: "Bonita. essa Lia! Enorme mulher de metro e oitenta. Os cabelos desarrumados, blusa florida e calça jeans, pés gigantescos em sandália de couro cru. Não está nada à vontade, devemos ser mais alguns daqueles forasteiros que vêm para lhe tirar fotografias, posar ao lado se possível com um sorriso que por enquanto economiza, como também raciona as palavras. Mais mimetiza do que fala. Dona Creusa parece um pouco a Neuma da Mangueira, bonita como ela. Cabelos brancos, manda renovar a cerveja e a cachaça, os filés de agulha. Queixa-se do preço do camarão, diz que todo ano tem Festival de Cirandas, mas que a vontade dela é botar ali em freme do bar uma espécie de palco cheio de luz. Para que Lia cante e cirandeie. No espaço que tinha, ergueram um barraco inútil que só atrapalhou a vida do bar. "E vive de que a Lia?" Da profissão de merendeira escolar. empregada do Estado. "Ganho salário". Quer dizer: esse mísero salário mínimo, que é uma vigésima parte do preço de uma diária das suítes presidenciais que nós pagamos para nossa primeira-dama desfilar seu eterno sorriso, coisa aliás muito rara no rosto de Lia, a de Itamaracá".

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