Tasso tem ligações genéticas com o trabalhismo
Barros: da ultradireita ao neossocialismo?
Li, com agradável
surpresa, o artigo “Para onde vai Tasso Jereissati?”, de autoria do meu amigo
Barros Alves, e publicado na edição de hoje (terça-feira, 26/1/16, do jornal O Povo). Alegra-me sobremaneira a
profissão de fé do autor na legítima social democracia e, na sua vertente mais
avançada, o socialismo democrático. A euforia é maior quando vejo que o autor
assina o artigo como secretário-geral do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Confesso que
imaginava Barros Alves, a essas alturas do radicalismo da vida política
nacional, a envergar camisa preta e a entoar loas a Benito Mussolini e aos
patológicos ultradireitistas brasileiros Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro ou
aos extremistas neoliberais Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino.
Auguri, auguri tanti, como dizem
os italianos, ou seja, que essa
mudança seja prenúncio, prefiguração, augúrio, de outras melhores que estão por
acontecer.
Sempre tive bom
relacionamento com Barros Alves, quando cobria política na Assembleia
Legislativa para o jornal O Povo e,
depois, quando passei a frequentar uma livraria que ele mantinha na Avenida Dom
Manuel, destinada a empréstimos de livros a leitores. Ideia das melhores.
Leitor voraz, eu
admirava – e ainda admiro – Barros Alves pelo amor e dedicação que ele dispensa
aos livros e aos autores clássicos. Escritores e poetas de uma maneira geral.
Estávamos sempre a debater e comentar a respeito de autores nacionais e
estrangeiros. Infelizmente, o negócio de livros que ele mantinha não foi para
frente, a exemplo do que acontece com a maioria dos empreendimentos culturais
neste País. Uma pena. Mas a amizade e as conversas continuaram.
Na eleição presidencial
de 2010, no entanto, a primeira que Dilma Rousseff disputou – e ganhou – eu reencontro,
nas redes sociais, mais precisamente no Facebook, um Barros Alves na
extrema-direita, rancoroso e agressivo. A desancar a candidata do PT e partidos
aliados à Presidência da República, e o que ele chamava de “petralhas” e “comunas”.
Trocamos algumas palavras ásperas e
resolvi bloqueá-lo no Facebook a fim de que a situação não evoluísse para
rompimento pessoal, o que, felizmente, não aconteceu. Minha admiração e estima
por Barros Alves continuou. Acredito que haja reciprocidade. Já nos encontramos
posteriormente e sempre nos saudamos amigavelmente.
Mas, voltemos ao
artigo de Barros Alves que me despertou curiosa atenção. Diz o articulista: “Neste
momento em que se abate sobre o Brasil uma crise ética e econômica sem
precedentes na nossa história, Jereissati (Tasso) tem sido referência de
firmeza e de prudência no Congresso Nacional. No Ceará todos sonham com o seu
apoio nos embates político-eleitorais que se avizinham. O líder social democrata,
antes demonizado pela esquerda, hoje é cortejado por muitos espectros
político-ideológicos do nosso Estado, aí incluindo a mesma esquerda
lulo-petista que o apedrejava”.
Partilho, até
certo ponto, das considerações feitas
pelo autor. Mas, data vênia o neossocialista Barros Alves: devo lembrá-lo que,
em 1986, Tasso Jereissati, foi eleito governador do Ceará com o apoio da
maioria da esquerda cearense. Incluo nesse leque o Partido Comunista do Brasil
(PCdoB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Movimento Revolucionário 8 de
Outubro (MR-8), este último abrigado como tendência do PMDB (Partido
Democrático Brasileiro), sigla pela qual Tasso Jereissati disputou – e foi
vitorioso – o Governo do Estado. O Partido dos Trabalhadores (PT), na esquerda,
foi o único que não o apoiou e lançou padre Haroldo como candidato à sucessão estadual.
Barros Alves
prossegue e sugere mais avanços político-ideológicos a Tasso Jereissati: “Todavia, há que se firmar na ideia de que,
pelo menos no Ceará atual, não há caminho mais iluminado para Tasso Jereissati
e o PSDB do que o socialismo democrático com raízes no pensamento que, ao longo
da história, se irmana, de forma siamesa, com a social democracia”.
Peço licença para
contrariar o articulista mais uma vez. Pela herança genética de Tasso
Jereissati o “caminho mais iluminado” seria apoiar, nessa disputa municipal, o
Partido Democrático Trabalhista (PDT), herdeiro legítimo do trabalhismo de
Getúlio Vargas, João Goulart e, principalmente, Leonel Brizola. O pai de Tasso
Jereissati, senador Carlos Jereissati, foi amigo e correligionário dessas três
personalidades históricas.
Vargas, Goulart e
Brizola sofreram na carne as mesmas terríveis pressões que Dilma Rousseff
padece agora por parte da grande mídia e das mesmas forças reacionárias. O
primeiro respondeu aos inimigos com o heroico gesto do suicídio, o segundo foi
deposto e o terceiro amargou longo exílio, retornando ao Brasil para retomar a
herança trabalhista, acrescentando o tempero “socialista moreno”, expressão
cunhada por Brizola. Se Barros Alves cita proeminentes figuras intelectuais do
PSB, o PDT o supera com nomes da estirpe de Alberto Pasqualini, Darci Ribeiro e Abdias
Nascimento, entre tantos outros.
Além de tudo isso,
Tasso Jereissati mantém relações de amizade com o pré-candidato do PDT à
Presidência da República Ciro Gomes e seria natural seu apoio ao postulante
pedetista ao Paço Municipal em
Fortaleza.
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