segunda-feira, 6 de maio de 2013

Homem de moral

Homem de moral
Conhecia os maiores sucessos de Paulo Vanzolini, falecido no último dia 29, antes de tomar conhecimento da existência do autor: "Volta por Cima" (1959), cantada por Noite Ilustrada; e "Ronda" (1953), interpretada por gerações de cantores e cantoras, até hoje. Os intérpretes obscureciam o nome do compositor.

Vim saber quem era Paulo Vanzolini através de disco gravado por Chico Buarque, em 1967, com "Samba Erudito" e "Praça Clóvis", no estilo do samba paulista (ironia amarga, o que o diferencia do samba carioca). Em "Praça Clóvis", um rapaz tem a carteira roubada (com o retrato da ex-namorada): "Eu já devia ter rasgado /E não podia/ Esse retrato cujo olhar/ Me maltratava e perseguia/ Um dia veio o lanceiro/ Naquele aperto da praça/ vinte e cinco/ Francamente foi de graça". Fica a dúvida machadiana: por que ele não rasgou antes o retrato da moça? Ao insinuar que agradece ao ladrão por ter levado a lembrança, ele é sincero? Conclui-se que o infeliz lamenta mais a perda do retrato do que o dinheiro. Puro Vanzolini. Tive duas surpresas: saber que o mesmo Vanzolini era autor de "Ronda" e "Volta por Cima" e que fazia música pelo mais puro diletantismo. Era cientista (zoólogo) de renome internacional. Na sombria década de 70, passei a conhecer outras músicas dele, através das amigas: Ana Fonseca, hoje secretária nacional extraordinária para a Superação da Extrema Pobreza; e Irlene Araújo, professora.

Termino com trecho de música de Vanzolini reveladora do seu pessimismo: "Vida comprida e vazia/ Dias e noites iguais/ Morte é paz".

Paulo VerlaineJornalista
(Publicado no Diário do Nordeste em 6/5/13)

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