segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Livro "A Mais Longa Duração da Juventude", de Urariano Mota, será lançado em janeiro em Fortaleza


A Mais Longa Duração da Juventude --romance com base em fatos reais – do escritor pernambucano Urariano Mota, com destaque nacional, chega no momento oportuno: hoje, saudosistas da ditadura militar (1964-1985) – ou pessoas que nunca viveram aquele período opressivo – acham que a melhor solução para os problemas do Brasil é a intervenção das Forças Armadas. 
      O livro deverá ser lançado em Fortaleza em janeiro próximo, em dia, horário e local ainda a serem definidos. Já houve lançamentos no Recife e em São Paulo.
     Publicado pela editora LiteraRUA, com 318 páginas, A Mais Longa Duração da Juventude, lançado neste ano de 2017, já está na segunda edição. É o retrato do País nos anos de chumbo, na década de 1970, no auge da ditadura militar, onde imperavam o medo, a tortura e os assassinatos de opositores do sistema vigente.  Escrito na primeira pessoa (um personagem fictício que tem muito a ver com o próprio Urariano) há também momentos de amor, ternura, música (I Wonder Why, cantada por Ella Fitzerald, é leit-motiv, ou tema recorrente, no livro), sexo e companheirismo. Tudo isso no texto escorreito, leve (sem ser banal) e criativo de Urariano Mota. É também um mergulho no Recife dos anos 70: as pontes, pensões, cabarés, comidas típicas e a paixão que todo recifense tem pela capital pernambucana.
     Não obstante tratar de temas pesados, o livro passa mensagem de otimismo nesses tempos do outro golpe, não o militar, de 1964, mas o judicial-legislativo-midiático de 2016: a juventude duradoura dos anos 60 se renova nos jovens de hoje, não nos sem-cérebro e debiloides bolsonaristas e integrantes do MBL, mas, nos estudantes que foram às ruas lutar por melhores condições de ensino, defender o mandato da presidenta Dilma Rousseff e protestar contra o “presidente” golpista e usurpador Michel Temer.
      Disse o autor ao jornal Diário de Pernambuco: “A primeira coisa a destacar é a seguinte: eu não procurei escrever somente sobre a ditadura. Quando eu estava indo visitar pensões onde morei, vi uma passeata de adolescentes protestando com bandeiras por uma educação melhor. Foi quando me ocorreu o fato de que havia uma duração mais longa da juventude. Quem esteve na clandestinidade e foi ao limite da entrega da propria vida está nesses jovens das ocupações de escolas e universidades”.
O autor – Urariano Mota é autor dos romances Os corações futuristasSoledad no Recife (baseado na vida da guerrilheira urbana Soledad Barrett, assassinada no Recife), e O filho renegado de Deus, além de Dicionário Amoroso do Recife, um guia sentimental da capital pernambucana. É também colunista do Portal Vermelho, do pornal GGN e do site Brasil 247.
Selene (Mirtes) – Entre alguns personagens fortes, masculinos e femininos, duas mulheres (Selene e Soledad) se destacam na narrativa de Urariano Mota: Selene, 18 anos, líder estudantil e diretora da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Selene é, nada mais, nada menos, do que Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira, estudante secundarista que, em 1968, liderou a chamada “Revolta das Saias”, em Fortaleza. Isto não é dito no romance, mas quem conhece a trajetória da Mirtes, identifica-a de imediato, principalmente nesses dois trechos do romance:
    “Selene possuía  apenas 18 anos de idade, e com tão pouco tempo de vida, discorria sobre a política nacional e clássicos do marxismo. Como ela conseguia ser tão precoce?”...
     ..."Selene era suas coxas porque nelas estava, por um lado, impressa a sua luta um pouco mais abaixo nas feridas conquistadas na batalha da Maria Antonia".
     A personagem real, Mirtes Nogueira, foi ferida com queimaduras causadas por ácido sulfúrico jogado nas suas pernas, no episódio que ficou conhecido como a “Batalha da Rua Maria Antonia”, no ano de 1968, em São Paulo (SP): a luta entre estudantes (esquerdistas) da Faculdade de Filosofia e os alunos da Universidade Mackenzie (direitistas).
O leitor encontrará os detalhes na revista Carta Capital (12/2/2013). Eis o link: https://www.cartacapital.com.br/politica/o-instinto-da-loba-e-a-batalha-da-maria-antonia.
Soledad Barrett – Soledad Barrett não tem pseudônimo. Aparece no livro com seu verdadeiro nome. Paraguaia, guerrilheira urbana e integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Soledad foi assassinada, juntamente com mais cinco pessoas,  pelos serviços de repressão da ditadura militar, no Massacre da Chácara de São Bento, em Goiana (PE). Os seis foran denunciados por um integrante do grupo, o famoso traidor Cabo Anselmo. Trata-se da parte mais dolorosa do livro. Mas o importante é o leitor tirar suas conclusões.

sábado, 21 de outubro de 2017

Ração humana que prefeito João Dória quer dar aos pobres faz lembrar o filme Soylent Green


     Ao ver vídeo postado pelo meu primo alagoano  Jorge Briseno sobre a “ração humana” que o prefeito de São Paulo João Dória quer distribuir para a população pobre me lembrei de algo assustador. Nos anos 70, assisti a um estranho filme de ficção científica americano: Soylent Green (de 1973, dirigido por Richard Fleischer). Título no Brasil: No Mundo de 2020; em Portugal: À Beira do Fim.
     O enredo é o seguinte: numa época futura (para a década de70) o mundo se vê às voltas com uma superpopulação  e, consequentemente, falta de alimentos.
     Em Nova York, autoridades, em parceria com um grupo econômico privado, encontram “solução milagrosa” para aplacar a fome da população carente: a fabricação de um alimento verde, em forma de tablete, chamado Soylent Green. O tal alimento era destinado apenas à ralé. Os ricos continuavam a comer carne, arroz, frutas e legumes (produtos raros e caros).
     Para o público externo a informação é a de que o Soylent Green tinha, na sua composição básica, algas marinhas verdes. Mas algo estranho se esconde por trás da fabricação do misterioso alimento. Um executivo da empresa fabricante do produto é assassinado  e um policial, interpretado por Charlton Heston, começa a investigar o homicídio, juntamente com um parceiro veterano.
     A dupla descobre uma coisa tenebrosa sobre o verdadeiro ingrediente do Soylent Green.Não conto aqui porque aprendi com meu amigo e colega Plínio Bortolotti que jornalista não deve revelar em público final de filme. Talvez a produção possa ser encontrado ainda nas locadoras, mas é mais fácil achá-lo na internet. Fica a dica.

domingo, 1 de outubro de 2017

Dêem-se a respeito! PT e PCdoB deveriam deixar defesa do mandato do Aécio Neves para o PSDB e a quadrilha do Temer.

     Tenho “erros, pecados e vícios”. Sou passional e destemperado nas críticas. Isso me tem feito ganhar inimigos e perder alguns amigos no festival de ódio a que está entregue o País há mais ou menos cinco anos. Quando erro, peço desculpas ou retiro a postagem, no caso de redes sociais. Se digo a verdade, mantenho a crítica. Não sou, no entanto, “soldadinho de chumbo” de nenhum partido politico (PCdoB e muito menos do PT ou qualquer outro partido de esquerda). 
     No caso da suspensão do mandato de Aecio Neves a polêmica tomou conta do Facebook. Posicionei-me a favor da medida, isto é, contra a permanência de Aécio Neves no Senado Federal. Aécio Neves não tem nenhuma condição legal e moral para permanecer naquela Casa do Legislativo.
Entre os que eu tenho debatido, quero ressaltar a postura equilibrada e lúcida da professora Sandra Helena Souza (o que não é novidade. Seus artigos no “O Povo” demonstram essas qualidades mais do que as postagens no Facebook). Quanto ao restante do pessoal de esquerda que defende o mandato do mineiro eu os considero, data vênia, meros “soldadinhos de chumbo” dos seus respectivos partidos.
     Quem são os principais responsáveis por esse ambiente de guerra civil? Os que não reconheceram a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014. Foram eles que interromperam a marcha da frágil democracia brasileira em busca da consolidação institucional e do Estado Democrático de Direito, fantasia que nunca existiu neste País. Aqui a justiça sempre continua a castigar os três pês: pobre, preto e puta. Foram eles que entregaram o Brasil a Michel Temer e sua quadrilha de ladrões para estabelecer o desmonte da dignidade nacional, a venda das riquezas e empresas nacionais e a destruição de conquistas sociais dos trabalhadores adquiridas depois de décadas de muitas lutas.
    Parafrasearam Carlos Lacerda (gênio do mal, jamais um tabaréu) contra Getúlio Vargas. Para eles, Dilma Rousseff não deveria ser candidata à reeleição, se candidata não deveria ser eleita, se eleita não deveria tomar posse, se empossada deveria ser derrubada. Esqueceram, todavia, de combinar isso com o povo, o eleitorado brasileiro. Dilma foi reeleita. Então passaram para a última fase: o desencadeamento do golpe, há muito tempo planejado. A história todos já conhecem, principalmente o espetáculo circense (mambembe) da votação do impeachment pela Câmara dos Deputados e, depois pelo Senado (um pouco mais recatado na safadeza).
     Entre essas figuras escabrosas um deles se destacou desde o início: Aécio Neves, o candidato derrotado, inconformado, passou a destilar ódio pelo País inteiro. Hoje, tal qual um ridículo aprendiz de feiticeiro, colhe o que plantou. PT e PCdoB deveriam deixar a defesa do mandato dele ao PSDB e à quadrilha do Temer. DÊEM-SE A RESPEITO!

terça-feira, 30 de maio de 2017

Viagem por quem sabe amar uma cidade, diz Mapurunga sobre o Dicionário Amoroso do Recife, de Urariano Mota

O escritor, poeta e dramaturgo cearense José Mapurunga fez, a pedido deste blog, comentário sobre o livro Dicionário Amoroso do Recife, de autoria do escritor e jornalista pernambucano Urariano Mota.
     José Mapurunga é autor de mais de 20 peças teatrais, entre as quais Farsa da Panelada, Auto da Camisinha e Auto do Rei Leal. A Farsa do Panelada foi premiada no 2º Concurso Nacional de Dramaturgia - Prêmio Carlos Carvalho, da Prefeitura de Porto Alegre (RS). Recentemente lançou o livro Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, em Fortaleza e na própria Viçosa, terra natal do autor.
O pernambucano Urariano Mota é autor do livro Soledad no Recife, onde narra os últimos dias de Soledad Barreett, mulher do cabo Anselmo, entregue pelo dedo-duro à repressão e assassinada. Seu último livro é O Filho Renegado de Deus, primeiro lugar no prêmio Guavira de Literatura 2014.
Eis o comentário de Mapurunga sobre o livro de Urariano Mota,
      
    Recife, cidade das maravilhas
             José Mapurunga

     Chegou às minhas mãos, emprestado pelo Paulo Verlaine, o Dicionário Amoroso do Recife, de autoria do escritor e jornalista Urariano Mota. Não houve verbete que deixei de ler. Na excelente prosa do autor, fiz uma viagem ao Recife profundo, a uma cidade de maravilhas, talvez perceptíveis apenas por quem sabe amá-la, e/ou porque quem sabe desfrutar o prazer de morar em uma cidade: ou ganham a vida ou frequentam os mercados públicos tradicionais, repletos de presença de espírito; os que se dedicam à arte, como o fotógrafo guiado pelo instinto, ou o escultor que criou para si um mundo ideal, ou o gênio rebelde do violão, ou os poetas para quem o que mais importa é a poesia, como aquele, de nome Valmir Jordão, que pede em versos para que não culpem às putas pelo comportamento nefasto dos filhos. Um Recife de frevo, de foliões famosos e anônimos, talvez o melhor carnaval do mundo, certamente sim para os que o brincam. No mais, a cidade com seus heróis populares pouco reconhecidos, mas realmente heróis.
     Points que os turistas tanto gostam são pouco citados no livro, no entanto o autor, de forma amorosa, homenageia o bairro Zumbi, além de festejar botequins, teatros, igrejas barrocas, bem como a sinagoga que dizem ser a mais antiga das Américas, e o Terreiro do Pai Adão, consagrado a Xangô, em funcionamento desde 1875. No Recife amoroso de Urariano, celebridades como Gilberto Freire, Joaquim Nabuco, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Ariano Suassuna e Reginaldo Rossi dividem páginas com outras pessoas caríssimas ao coração da cidade.



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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Mapurunga lança livro e recebe homenagem em Viçosa do Ceará

O lançamento do livro Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, do escritor José Mapurunga, transformou-se também em homenagem ao autor na sua terra natal, graças à iniciativa do secretário municipal Aníbal José Sousa (Cultura e Meio Ambiente), com apoio do prefeito Firmino Arruda, de Viçosa do Ceará.
O Teatro Pedro II, local do lançamento-homenagem, viveu, a partir das 20 horas de sábado último (29/4), momento de muita emoção, em acontecimento que reuniu autoridades, escritores, historiadores, parentes e amigos de José Mapurunga. A secretária de Educação Andrea Ribeiro representou o prefeito Firmino Arruda na solenidade.
     Na abertura, o secretário Aníbal José Sousa ressaltou a importância do evento, enalteceu a carreira literária do autor e o trabalho de pesquisa histórica e resgate sentimental do livro. Declarou que o lançamento poderá dar início a outros atos culturais no histórico Teatro Pedro II e conclamou a comunidade viçosense a prestigiar aquele espaço de valor histórico, cultural e sentimental.
A professora Teresa Cristina Mapurunga Miranda Magalhães, prima do autor, também se referiu à trajetória literária de José Mapurunga, escritor e dramaturgo reconhecido nacional e internacionalmente (a peça teatral O Auto do Panelada foi encenada em Maputo, capital de Moçambique), ao mesmo tempo em que destacou a ligação sentimental do escritor com sua terra natal.
     A apresentação oficial de Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará esteve a cargo de Tiago Peres Reial que mencionou vários trechos do livro, destacando aspectos históricos, culturais, geográficos, sociais e curiosidades (lendas e narrativas populares) do município apresentados, no livro, em ordem alfabética.
HOMENAGEM A ZÉ MÚSICO
     Momento especial foi a dupla homenagem prestada a Mapurunga e a José Alves Ferreira, o Zé Músico, notável seresteiro e violonista de Viçosa do Ceará, já falecido, a quem é dedicado um capítulo do livro.  Mairton e Francimário Ferreira, filhos de Zé Músico, também instrumentistas, compareceram à festa literária no Teatro Pedro II, com outros colegas. Na ocasião, apresentaram números musicais para a plateia.
     Heloísa Mapurunga, outra prima do escritor, cantou, no palco, acompanhada pelos músicos, dois verdadeiros hinos viçosenses: uma marchinha carnavalesca, de autoria de José Mapurunga, sucesso durante vários anos nos bailes carnavalescos da cidade; e a canção Saudade, sempre cantada por Zé Músico nas serenatas que começavam embaixo da estátua de Clóvis Beviláqua, na Praça da Matriz, narrada no Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará. A música, gravada inicialmente em ritmo de valsa pelo paulista Jayme Redondo no ano de 1929 foi adaptada posteriormente para um estilo mais alegre, transformando-se em samba. Era nesse último ritmo que Jayme Redondo a cantava.
     A secretária de Educação Andrea Ribeiro fez uso da palavra e disse de sua grande alegria de desempenhar a missão de representar o prefeito Firmino Arruda na solenidade, ela, que também é prima do escritor e homenageado. Ela recebeu, na ocasião, o livro das mãos de José Mapurunga.
      O historiador Gilton Barreto, autor do livro Viçosa do Ceará Sob Um Olhar Histórico, fez aprofundada análise de Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, contribuindo para abrilhantar a noite de sábado último no Teatro Pedro II.
No final, um coquetel foi servido aos presentes no pátio do teatro.


quinta-feira, 27 de abril de 2017

Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará por José Mapurunga

O escritor José Mapurunga lança neste sábado (29/4) o livro Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, na própria Viçosa do Ceará, terra natal do autor. O evento ocorrerá no histórico Teatro Pedro II (tema de capítulo do livro), às 19h30, numa promoção da Secretaria Municipal de Cultura e Meio Ambiente viçosense, tendo à frente o secretário Aníbal José Sousa.  O prefeito José  Firmino  de Arruda deverá estar presente ao acontecimento que reunirá outras autoridades, intelectuais, pesquisadores, lideranças  do município e convidados.
     O livro já havia sido lançado em Fortaleza no último dia 14 de fevereiro, no auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa do Estado, em acontecimento prestigiado por escritores, integrantes da colônia de Viçosa do Ceará radicada na capital cearense, amigos e admiradores do trabalho de José Mapurunga, autor de mais de 20 peças teatrais, entre as quais Farsa da Panelada, Auto da Camisinha e Auto do Rei Leal.
     Roteiros e guias sentimentais de cidades e outros lugares sempre são leitura atraente, mas, quando burilados pelas mãos de escritores e poetas, tornam-se ainda mais valiosos. É o caso do Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará, escrito pelo poeta, escritor e dramaturgo José Mapurunga, meu amigo e antigo companheiro das lutas estudantis do ano mágico de 1968.
     O autor mergulha na história, geografia, flora, fauna, culinária, arquitetura religiosa, narrativas reais e lendas populares de Viçosa do Ceará, sua terra natal, sempre lembrada por ele em seus escritos anteriores e em conversas com amigos. Agora, essas lembranças e pesquisas transformam-se em livro, mais um ponto marcante na trajetória de José Mapurunga.
Writing a poem is discovering (“Escrever um poema é descobrir”, dizia o poeta norte-americano Robert Frost). Nessa viagem sentimental através de séculos e décadas, Mapurunga faz interessantes descobertas.  Vêm à tona histórias  - algumas alegres e curiosas, outras tenebrosas – ouvidas pelo menino Mapurunga  dos  seus pais, avós, tios avós e outras figuras marcantes da cidade. O texto tem a forma de prosa, mas com toque poético, criativo e mesclado, aqui e acolá, com o humor discreto do autor. A ordem alfabética dos assuntos (ou verbetes) possibilita ao leitor iniciar o livro pelo tema que julgar mais interessante.
Com 262 páginas, Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará foi editado e impresso pela Expressão Gráfica e Editora. A foto da capa, de Daniel Carneiro, lembra paisagem europeia, mas retrata fenômeno típico de Viçosa: um denso nevoeiro e árvores seculares, com um homem abrigado por um guarda-chuva. O design da capa é de Natália Mapurunga e Gilberlânio Rios. A coordenação editorial é de Daniel Monteiro.
Transcrevo trechos de alguns capítulos do livro para dar uma ideia da dimensão do trabalho de José Mapurunga:
Assombrações
No passado, quando o motor da luz dava dois sinais antes deixar as ruas de Viçosa na mais completa escuridão, nove horas da noite, as almas penadas tinham licença para assombrar os vivos. Frequentes eram as noites em que elas apareciam. Visagens e vivos eram vizinhos. Mesmo dentro de casa, alta madrugada, sempre havia alguém tremendo de medo, ouvindo nitidamente pisadas estranhas sobre as pedras toscas que pavimentavam as Ruas. Ou ouviam pisadas semelhantes de alguém que já havia morrido. Coisas assim que arrepiavam os mais descrentes... A chegada da energia de Paulo Afonso, no final da década de 60, expulsou a maior parte desses entes do além, que então se refugiaram nos sítios, nas proximidades de pequenos cemitérios avoengos, no meio do mato, pertinho das capelas familiares onde repousam os ossos de ancestrais teimosos em não largar o que amaram em vida.

Cachaça
... Meu tio Chico Caldas, entusiasta da cachaça viçosense, comprava regularmente os melhores exemplares produzidos e envelhecidos em toda região. Aos amigos que adentravam na sua casa servia doses em copinho de vidro. Aos visitantes, presenteava com litros do produto, o que muito ajudou a construir a fama da cachaça artesanal produzida em Viçosa.
Enéas Cavalcante, no seu livro de memórias denominado Evocações fala de engenhos de cachaça da passagem do século 19 para o 20: o do seu avô Mariano Lopes, no sítio Bananeiras, e na fábrica de Cândido do Espírito Magalhães, no Careta. Enéas também insinua que até o vigário José Ferreira da Ponte, que esteve à frente da paróquia entre 1905 e 1910, mantinha fabriqueta de cachaça no Sítio da Santa, o Catinguba, hoje um bairro da cidade.
Cauim
É uma bebida alcoólica de origem ameríndia, feita em todo o Brasil, usando-se como matéria prima mandioca...  Macaxeiras eram descascadas e cozinhadas em caldeirões de barro. Cozidas e quase esfriadas, eram mastigadas por moças índias, que sentadas no chão, iam pondo a massa, já bem pastosa, em outras vasilhas. Depois, colocavam a massa em caldeirões com água, para nova fervura. Em seguida, punham o líquido resultante em potes, que eram bem fechados e enterrados até o meio, dentro das cabanas. Daí a dois dias a fermentação estava completa e o cauim pronto para ser bebido até a última gota. Primeiro era necessário que lhe fosse retirado, com uma peneira fina, o cabeço, uma nata que se formava no processo de fermentação da bebida. Pará que a bebida não estragasse tanto a mastigação da macaxeira quanto a retirada do cabeço deveriam ser feitos, exclusivamente, por moças virgens.
Culinária
As avós viçosenses repetem ainda hoje as antiquíssimas receitas que aprenderam com suas avós. Iguarias venerandas, apreciadas por pessoas de todas as idades e ensinadas às novas gerações. Viçosense morando em outros lugares, vez por outra, mata a saudade se deliciando com velhas pratos viçosenses, como a mui estimada Carne Seca com banana verde. Viçosense longe de sua terra adora receber petas de goma, bolinhos crocantes e doces que aprendeu a gostar quando criança. O afetivo paladar quer se sentir no aconchego de Viçosa.
No livro, José Mapurunga dá a receita das seguintes iguarias: bolinhos de goma, bolo de milho na pedra, carne seca com banana verde, esquecidos, doce de buriti, doce de jaca em calda, doce de jaca em massa, doce de laranja da terra.
Diabo Grande
Jurupariaçu na língua tupi. Principal da aldeia indígena da Ibiapaba onde padre Francisco Pinto e padre Luiz Figueira ficaram durante quatro meses, de setembro do ano de 1607 e até 11 de janeiro de 160. Enquanto estiveram em Ibiapaba, catequizaram os índios e fizeram negociações com tribos hostis, visando a abertura de um caminho por terra para o Maranhão. Antes, em 1604, aliado dos franceses, Diabo Grande participou da resistência ao avanço de Pedro Coelho. No livro intitulado Viçosa do Ceará – Notícias Esparsas, o autor, Joao Otávio Siqueira, diz: o padre francês Yves d´verteu, em sua viagem ao Norte do Brasil, pretende que o chefe indígena Jurupariaçu, o Diabo Grande, era filho de um conterrâneo seu com uma nativa tabajara.”
Igreja do Céu
Mesmo antes de ali haver um igreja, o local era conhecido como Morro do Céu. No romance Iracema, de José de Alencar, escritor propenso a criar lendas, tem nota de rodapé afirmando que no Morro do Céu nasceu o índio Felipe Camarão, herói das guerras contra a Invasão Holandesa...A estátua do Cristo na torre da Igreja foi esculpida pelo italiano Agostinho Balmes Odísio, que fora aluno de Rodin, famoso escultor francês...Quando criança e adolescente subi inúmeras vezes a escadaria para cegar à igrejinha e em cima deslumbra-se com uma paisagem de tirar o fôlego.
Igreja Matriz
A Igreja Matriz é hoje tombada pelo IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A inauguração se deu a 15 de agosto de 1700, pelo então superior dos jesuítas na Aldeia da Ibiapaba, padre Ascenso Gago.
Mapurunga discorre sobre as imagens de Santa Ana, de Nossa Senhora da Cabeça e se detém na descrição dos impressionantes painéis da Igreja da Matriz:
Um dos elementos importantes da Igreja Matriz de Viçosa é o forro do altar-mor, onde estão pintados 12 estranhos painéis. Quando criança, eu me distraía da missa para contemplar essas pinturas místicas, a imaginar histórias a partir do que eu via. Toda vez que vou a Viçosa os contemplo. Para Antônio Bezerra, eram inspirados em motivos bíblicos. Para o arquiteto Liberal de Castro, simbolizam virtudes cardeais, virtudes teologais e sentidos humanos. Sobre a autoria das pinturas, não existem pistas, apenas perguntas: seria algum padre ou irmão leigo da Copanhia de Jesus? Seria serviço contratado a terceiros pelos padres da Aldeia da Ibiapaba?
Matança da Tabatinga
Crime acontecido no sítio Tabatinga, distante sete quilômetros da cidade de Viçosa, em propriedade pertencente ao major Inácio José Correia, o Macaxeira. Eram 7 horas da noite do dia 6 de outubro de 17 quando a casa grande do major José Inácio (onde hoje é o engenho de cana do major Raimundo Nestor Mapurunga) foi assaltada por membros de uma família que residia nas proximidades. O ataque foi comandado por Francisco Gonçalves da Costa, o “Velho Juriti”.
José Mapurunga relata que foram trucidadas 19 pessoas na chacina e cita os nomes das vítimas, entre as quais mulheres e crianças, pessoas da família do major Inácio, serviçais e vizinhos que tentaram defende-los. O major Inácio, paralítico, foi retirado do local antes da tragédia, mas seus familiares não escaparam à sanha dos inimigos.
Zé Músico
No final da década 1960, a energia de Paulo Afonso chegou a Viçosa, mas a iluminação pública da cidade, talvez por economia, era desligada por volta da meia noite Era a senha para começarem as serenatas. O ponto de encontro dos seresteiros era a Praça da Matriz, ao pé da estátua de Clóvis Beviláqua, assim que a luz apagasse. Nessas condições, algumas vezes marcava com Zé Músico e seguíamos pela madrugada, ele ao violão entoando cantigas. Tive a honra de prezar da amizade desse artista, de visitar sua casa e de conhecer o seu repertório. Tive o prazer de acompanha-lo em algumas das serenatas nas quais ele cantava e tocava violão com o apoio do cavaquinho de João Jonas e do pistom de Toinho Nicolau... Porém a marca de Zé Músico foi Saudade, que ele entoava para abrir e fechar suas cantatas., emocionando os corações viçosenses nas reuniões festivas e serenatas, pondo lágrimas nos olhos de quem ouvia e associava música e letra com boas recordações. Saudade tornou-se uma espécie de Hino Sentimental de Viçosa. Só mais tarde, em 2004, através do pesquisador Cristiano Câmara, conheci um pouco mais sobre essa música que tanto encantava e encanta os viçosenses. Liguei para ele, cantarolei e ele, surpreso, me pediu tempo para pesquisar, pois ainda não conhecia a cantiga. Menos de uma hora depois, ele retornou a ligação. Daí, tomei conhecimento que  Saudade era de autoria de Jayme Redondo. Esse autor nasceu em São Paulo em 190 e faleceu em 1952.  

O que foi transcrito é apenas uma amostra do livro de José Mapurunga. O leitor terá muito mais o que apreciar se adquirir o Roteiro Sentimental de Viçosa do Ceará.