"A música de qualidade está fora da programação das grandes emissoras" (de rádio e televisão). A declaração é do cantor e compositor Rodger Rogério em entrevista concedida ao blog Coluna da Hora. Para Rodger, "a música brasileira nunca perdeu a qualidade. Em qualquer pedaço deste chão tem sempre alguém que canta, com talento, seu tempo, seu amor, sua gente ou seu lugar. A baixa qualidade é da programação das emissoras de rádio e televisão.
Rodger Rogério se apresentará neste sábado, a partir das 10 horas, no evento Anistia - 15 anos - Tempo de Lutas e Desafios, em comemoração aos 15 anos da Associação 64/68 Anistia, no Container Art Mall, na Rua Leda Pereira, 534, Parque Manibura. Um dos maiores nomes do Pessoal do Ceará, Rodger é autor das músicas Bye, Bye Baião, Chão Sagrado, Retrato Marrom e O Lago, entre outras.
Paulo
Verlaine - Quinze anos após a passagem do milênio, pode-se dizer que
a canção acabou? Chico Buarque, um dos ícones da MPB, declarou, numa entrevista concedida em 2004 ao jornal Folha
de S. Paulo, que a canção
morreu. Morreu mesmo?
Rodger Rogério - A canção acabará
jamais.. A música e, em particular,a canção, é a expressão da alma coletiva...
PV - Mesmo
tirando de lado o romantismo e as letras que falam de amor, há espaço hoje para
música popular de qualidade, como a que se fazia nos anos 60, 70 e 80?
RR- Sem dúvida Na música, na vida, no Universo, em tudo, o ritmo é
fundamental, tudo é cíclico e há espaço e tempo para tudo. O que mudou muito foi
o mercado.Este está aturdido.
PV - Entre os valores novos
surgidos (as) dos anos 90 para cá você citaria quem?
RR - Prefiro não
citar nomes pois são muitos e do mais alto valor. Grandes talentos, artistas
verdadeiros.
PV - O acesso aos bens de consumo, principalmente no
que se refere aos aparelhos tecnológicos - televisores LED, HD, computadores,
pen drives, etc – teria contribuído para a baixa qualidade da música popular
produzida hoje no Brasil, como pensam alguns elitistas? Ou a queda na qualidade
do ensino é responsável pelo lixo que se ouve no País?
RR - A música brasileira nunca perdeu qualidade, pelo contrário, em
qualquer - pedaço deste chão tem sempre
alguém que canta, com talento, seu tempo, seu amor, sua gente
ou seu lugar. A baixa qualidade é da programação
das emissoras de rádio e televisão.
PV - Nos
anos 50, 60, 70, 80, até os 90 até a música chamada brega, o forró (Trio
Nordestino, por exemplo), lambada (anos 90) e outros modismos de
massificação musical tinham mais qualidade do que as coisas produzidas de 2000
para cá. O que aconteceu?
RR -A música de
qualidade está fora da programação das grandes emissoras.
PV – Como
qualifica o seu trabalho musical atualmente? E o do passado? Se arrepende
de ter deixado de fazer alguma coisa, tipo ceder à massificação para alcançar
multidões e as paradas de sucesso?
RR - Minha relação com a
música é amorosa e sem arrependimentos. Hoje eu gosto muito de cantar, coisa
que antes a timidez me proibia. O Curso de Arte Dramática da UFC
me ensinou a driblar a timidez.
PV - Passando
para a política, a que atribui a agressividade e o baixo nível do debate
político hoje, intensificadas durante e após a última campanha presidencial? Há
presença da direita, dos piores setores da direita (adeptos do
Bolsonaro e dos pastores Malafaia e Feliciano) em muitos setores da sociedade,
principalmente nas redes sociais. Sentimentos como o racismo, a misoginia, a
homofobia e a defesa da ditadura militar e do apartheid social afloraram com
grande intensidade. Isso estava adormecido, incubado, mas latente. O que
deflagrou essa onda fascista no Brasil?
RR - Educação, não
confundir com adestramento, educação libertadora. Educação com Ciência e Arte.é
o tratamento para muitos males brasileiros, inclusive desses males de
agressividade, preconceito e
intolerância.Música na Escola já seria um bom primeiro passo nesse rumo da
libertação. Esses sentimentos de ódio sempre existiram na
nossa sociedade. Agora a Democracia da web
permite uma amplificação de qualquer ideia ou sentimento.
PV - Como
se sente num evento de anistiados políticos?
RR - É um encontro
emocionante, é uma reunião de pessoas que sonharam juntas quando jovens.
PV -Como
vê o papel do Pessoal do Ceará na MPB.
RR - Essa turma da
música da nossa geração deu uma rica contribuição ao repertório musical
brasileiro , honrando uma tradição que vem de Alberto Nepomuceno, Paurílo
Barroso,Aleardo
Freitas, Lauro Maia, Humberto Teixeira, Zé Meneses, Evaldo Gouveia...